Queda nos preços das cotas abre boas oportunidades nos FIIs, dizem gestores
Por outro lado, mercado primário enfrenta dificuldades de captação
O GRI Club Real Estate Brazil realizou no último dia 11 a quarta edição do Fórum de Fundos Imobiliários, reunindo no Transamérica Expo, em São Paulo, as principais gestoras e administradoras de FIIs, bem como desenvolvedores e investidores imobiliários.
Com uma programação bastante diversificada e a possibilidade de participação presencial ou online, o evento teve audiência de 2,4 mil pessoas, abordando os desafios e as oportunidades nas principais classes de ativos imobiliários, bem como o impacto do cenário macroeconômico no desempenho dos fundos.
Convidado para abrir o fórum, o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto de Almeida, fez um resgate dos avanços realizados no Brasil desde 2017, como a criação de um teto de gastos públicos, a aprovação da reforma da Previdência e a autonomia do Banco Central em relação ao Poder Executivo, destacando que o panorama, embora desafiador no curto prazo, sugere anos melhores à frente.
Para Mansueto, é essencial que haja continuidade na agenda de reformas em discussão, principalmente administrativa - para reduzir o gasto público com pessoal - e tributária, para estimular a economia. “O ano de 2022 ainda será complicado, mas temos tudo nas mãos para a partir de 2023 o país deslanchar. Vamos ter que fazer muita tolice para o Brasil não dar certo”, disse.
Centenas de pessoas acompanharam presencialmente e outras milhares de forma online a sessão de abertura do Fórum GRI de Fundos Imobiliários com o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto de Almeida. Foto: Flávio R. Guarnieri/GRI Club
Durante todo o dia, gestores das principais casas de investimentos do país e desenvolvedores imobiliários destacaram as oportunidades no mercado secundário em razão da queda abrupta nos preços das cotas de praticamente todos os fundos nos últimos meses, frente a uma alta expressiva da Selic. O GRI gravou uma série de entrevistas no evento que você confere ao longo das próximas semanas.
Em paralelo, a reportagem conversou com dois dos principais especialistas em fundos imobiliários no país: Carlos Martins, sócio e head de Real Estate da Kinea Investimentos, e Regis Dall’Agnese, sócio-diretor da RB Capital. Ambos concordam que talvez esta seja uma oportunidade única de entrada, já que os preços estão descontados, mas os fundamentos do setor imobiliário continuam bons, o que se comprova no pagamento de yields mensais consistentes.
“Os valores no mercado secundário estão muito descontados em relação ao valor patrimonial dos fundos imobiliários, o que eu vejo como uma boa oportunidade para comprar ativos praticamente irreplicáveis, como prédios na Faria Lima, na Paulista e no Jardins, mas olhando para um horizonte de uns três anos”, afirma Martins.
Em raciocínio parecido, Dall’Agnese aponta que o investidor que está comprado não deveria sair e aquele que está fora deveria entrar. “Estamos falando, em alguns casos, de comprar ativos de primeira qualidade que estão sendo negociados com 20% de deságio e pagam dividendos acima de 8% (ao ano). Não sei quando vai haver esse tipo de oportunidade de novo”, ressalta.
André Bacci (à direita), um dos mais conhecidos investidores pessoa física de fundos imobiliários do Brasil, participou do painel de encerramento do evento. Foto: Flávio R. Guarnieri/GRI Club
Segundo os especialistas, o investidor que aceitar manter as cotas precificadas abaixo do valor de entrada tende a ser recompensado no horizonte de médio a longo prazo, considerando que quando a inflação for controlada e os juros naturalmente voltarem a cair, os fundos serão precificados para cima.
“Quando o Banco Central conseguir trazer a inflação para a meta, se pensarmos em juros reais de 3%, estamos falando de uma Selic entre 6 e 6,5%, e se olharmos para o nível de dividendos pagos pelos fundos imobiliários, eles vão ficar muito interessantes”, explica Martins. Em outras palavras, o investidor tende a ganhar tanto com a renda mensal quanto com a subida do preço das cotas.
Impactos no mercado primário
O momento é delicado para novas emissões e captações, impactando diretamente o setor, que nos últimos anos passou a se financiar via FIIs. “Com os custos atuais de terreno e obra, o desenvolvedor não vai se permitir vender esse ativo para um fundo imobiliário pelos preços que estão sendo praticados hoje”, assinala Dall’Agnese.
“O setor cresceu [nos últimos anos] muito alavancado pelos fundos imobiliários, e dado que a conta hoje fecha menos no mercado primário, naturalmente é preciso buscar outras fontes de funding - muito mais de dívida do que de equity - ou desacelerar o ritmo [de produção]. Provavelmente aconteça uma combinação das duas coisas”, acrescenta.
O sócio da RB Capital explica que as dificuldades de curto prazo são muito maiores para os FII de tijolo. Tanto que, no acumulado do ano, os fundos de CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários) respondem por mais de 50% das emissões.
Martins também aponta que no contexto atual há pouco dinheiro disponível para fundos de tijolo, mas à medida que o mercado secundário começar a reagir, com os preços das cotas mais próximas do valor patrimonial dos fundos, novas emissões devem ocorrer.
“No momento, a emissão primária está bem difícil, pois não está havendo apetite no mercado. Talvez haja espaço para desenvolvimento porque os yields são maiores, mas aí não é para renda, é para ganho de capital”, encerra o especialista.Por Henrique Cisman