
“Brasil pode dar salto estrutural em data centers”, diz executivo da Vertiv
Alex Sasaki analisa medidas do governo para destravar o setor e ampliar a atratividade do país em entrevista ao GRI Club
O setor de data centers no Brasil está prestes a vivenciar um salto estrutural, impulsionado por medidas governamentais que têm o potencial real de posicionar o país de forma favorável para novos investimentos. Essa foi a principal mensagem de Alex Sasaki, vice-presidente para a América Latina da Vertiv - especializada em infraestrutura crítica para operações em data centers - em entrevista exclusiva ao GRI Club que abordou os caminhos para a transformação digital no país.
Incentivos fiscais e regulação: o impulso necessário
Sasaki esteve presente na missão aos Estados Unidos liderada pelo ministro Fernando Haddad, onde representantes de cerca de 40 empresas do setor discutiram o futuro do mercado com autoridades brasileiras. Entre os destaques da reunião, estão dois instrumentos que prometem destravar investimentos no curto e médio prazo: uma Medida Provisória e o Projeto de Lei de Regulamentação da Inteligência Artificial (IA).
A MP, segundo Sasaki, propõe a desoneração de tributos para a infraestrutura de data centers e deve ser formalizado por medida provisória em breve. Já o Projeto de Lei 3018/2024 visa estabelecer um marco regulatório para IA, promovendo segurança jurídica para novas tecnologias. “É um marco histórico. Essas medidas, assim que aprovadas, podem destravar muitos investimentos, posicionando o Brasil como um grande polo de data centers”, afirma.
Competitividade e o desafio do custo Brasil
O executivo também compartilha uma perspectiva interessante: hoje, construir um data center no Brasil pode custar até 1,5 vez mais do que em Ashburn, na Virgínia do Norte - a principal concentração global desse tipo de infraestrutura.
A razão, segundo ele, está na elevada carga tributária brasileira, incluindo impostos de importação e tributos estaduais. “O Brasil é um dos lugares mais caros para se investir em data center”, destaca. Nesse contexto, essas medidas têm o teor certo para atrair capital estrangeiro.
A estimativa do governo federal é que o país possa captar até R$3 trilhões em investimentos no setor nos próximos dez anos, segundo declarações do próprio ministro da Fazenda durante o evento nos Estados Unidos.
Ministro Fernando Haddad durante anuncio de medidas para atrair data centers ao Brasil (imagem: Flickr/Ministério da Fazenda)
Na comparação com outros países da região, o Brasil se destaca pela disponibilidade de energia renovável, espaço geográfico e, sobretudo, talento humano. “O Brasil exporta talento. Muitos executivos em empresas de hyperscale lá fora são brasileiros”, ressalta Sasaki. Ele cita também o avanço de mercados como Chile, México e Colômbia, com destaque ao Peru, conhecido por sua excelente conectividade graças ao recebimento de cabos submarinos.
No entanto, apesar do progresso regional, o Brasil ainda está na “onda da cloud”, com apenas 20 a 30% das empresas migradas para a nuvem, segundo o executivo. Isso revela um enorme potencial latente. “Ainda não chegamos na era da inteligência artificial no Brasil. Temos iniciativas, mas o grande salto ainda está por vir.”
O papel do setor privado
A Vertiv está presente em 9 a cada 10 grandes data centers no país. “A gente respira esse mercado. Nosso papel é ajudar tanto as empresas como o Brasil a estar cada vez mais digitalizado.”
Como empresa especializada em soluções críticas para esses ambientes - como energia, refrigeração e suporte técnico - a estratégia da companhia é manter proximidade com os hyperscalers e adaptar suas ofertas às exigências de nível de serviço dessas operações.
Mais do que infraestrutura, Sasaki enxerga a expansão do setor como uma oportunidade de transformação social. “Se a gente conseguir unir o poder público e o privado, conseguimos fazer mudanças que são duradouras e estruturais. Foi isso que vimos lá fora: concorrentes sentados juntos por uma causa maior”, finaliza.