Biofilia potencializa o bem-estar em shoppings, escritórios e apartamentos

Contato com a natureza ganha força na análise do consumidor

16 de junho de 2021Mercado Imobiliário

"Biofilia é a atração inata que o ser humano tem pela natureza", explica o arquiteto Sérgio Athié, sócio-fundador do escritório Athié Wohnrath. Justamente por esta conexão, o design biofílico tem ganhado espaço em projetos imobiliários de diversos segmentos.

"É um conceito relacionado à neuroarquitetura, que estuda o impacto do espaço construído nas pessoas. Pesquisas comprovaram cientificamente que ambientes naturais podem potencializar a sensação de bem-estar e melhorar a produtividade", acrescenta o especialista.

Segundo o executivo, para estimular esse vínculo podem ser utilizadas plantas, madeira, pedras, água e demais elementos naturais nos empreendimentos. Objetos que mimetizam algo natural, como um piso vinílico que imita a madeira, também têm um impacto biofílico e são uma alternativa.

Mesmo que nomeado de diferentes maneiras, o design biofílico já se fazia presente em projetos imobiliários desenvolvidos ao longo das últimas décadas, inclusive pela Athié Wohnrath. Entretanto, o sócio do escritório admite que recentemente a utilização do conceito se tornou mais recorrente e importante.

"A pandemia e o isolamento social aumentaram a preocupação com o bem-estar nos ambientes, o que inclui a biofilia. Também cresceram as discussões relativas ao impacto ambiental. Portanto, acho que todo bom projeto imobiliário tem que pensar nisso", avalia Athié.

Uma das incorporadoras que tem introduzido elementos naturais em seus projetos é a Gamaro. "Acreditamos muito na harmonia entre o empreendimento e a natureza. Faz parte do conceito arquitetônico dos nossos projetos a conexão das pessoas com o meio ambiente", afirma a CEO, Cecília Maia.

Como primeiro exemplo, a executiva cita o edifício residencial Seed, construído pela Gamaro na Vila Olímpia, em São Paulo, e vencedor de dois prêmios: Rethinking the Future – Architecture, Construction & Design Awards 2018 e Master Imobiliário 2016. 

De acordo com Maia, todos os apartamentos têm uma pocket forest, ou floresta de bolso, que são espaços desenvolvidos para abrigar um fragmento de mata. A fachada e as áreas comuns do prédio também contam com bastante verde.

Edifício Seed foi desenvolvido em parceria com a Cardim Arquitetura Paisagística. Crédito: Divulgação/Gamaro

A líder da Gamaro ainda menciona um projeto no Brooklin em fase de construção, chamado O Parque. "É um complexo multiuso com três torres residenciais, uma corporativa, uma para restaurantes e outras duas para uso educacional. Terá uma praça que une todo o empreendimento, com dois lagos e muitas árvores", revela.

O Parque terá um prédio destinado à faculdade Anhembi Morumbi. Crédito: Divulgação/Gamaro

Outra empresa atenta à importância da presença de elementos naturais nos projetos imobiliários é a Bait, que atua no Rio de Janeiro. "Entendemos que é fundamental para proporcionar uma melhor qualidade de vida. Sempre que possível, trabalhamos o paisagismo nos empreendimentos, o que ajuda a trazer equilíbrio para o mesmo", garante Henrique Blecher, CEO da companhia.

Um deles é o residencial Atlântico Bait, em Copacabana, que vai englobar desde studios até unidades com mais de 300 m². Conforme conta o executivo, em diversas áreas do prédio serão introduzidas plantas nativas da Mata Atlântica, que é o bioma da região.

No Atlântico Bait, a área da piscina terá design biofílico. Crédito: Divulgação/Farol da Bahia

Segundo Blecher, a empresa ainda planeja lançar outro empreendimento no Rio de Janeiro com este conceito, em breve. "O terreno tem mais de 30 mil metros quadrados e devemos preservar o meio ambiente em dois terços dele", declara o CEO da Bait.

Neste quesito, não há como esquecer da Athié Wohnrath, que já desenvolveu diversos projetos com design biofílico, como dito anteriormente. Um deles é o escritório da Braskem, em São Paulo, que conta, por exemplo, com plantas e objetos que mimetizam a madeira.

Projeto desenvolvido pela Athié Wohnrath para a Braskem. Crédito: Divulgação/Athié Wohnrath

Para Athié, a biofilia não representa mais uma minuciosidade do projeto e passou a fazer parte da análise do consumidor. "É um aspecto que ajuda a colocar o produto no mercado. Utilizar este conceito é muito melhor do que ter um produto árido, sem a presença da natureza. O segmento de shopping centers tem bons exemplos de design biofílico", assegura.

Os líderes de Gamaro e Bait concordam com a declaração. "Tem incorporadores que preferem fazer o básico para reduzir despesas e evitar um repasse ao consumidor. Para nós, contudo, as áreas verdes são item obrigatório. O contato com a natureza é uma premissa dos nossos projetos e vem ganhando cada vez mais força, vide o aumento na procura por casas no interior", cita Maia.

"Percebemos que a biofilia é um diferencial nos empreendimentos imobiliários, em especial no segmento de alto padrão. Temos uma grande preocupação com isso", encerra Blecher.


Por Daniel Caravetti