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Socicam analisa - em exclusiva - impacto da nova Estratégia de Mobilidade Urbana
Com transporte individual superando o coletivo pela primeira vez no país, autoridades buscam reverter o cenário
17 de fevereiro de 2025Infraestrutura
Por Belén Palkovsky
Segundo a pesquisa Origem e Destino do Metrô de São Paulo, lançada em 2023 e publicada no início deste ano, o transporte individual superou o coletivo pela primeira vez na história, atingindo 51,2% contra 48,8%. O dado confirma uma tendência observada desde a década de 1960, quando o transporte coletivo representava quase 70% das viagens, enquanto o individual ficava na casa dos 30%.
Para Wanderley Galhiego Júnior, diretor de Relações Institucionais da Socicam, esse fenômeno tem relação direta com a segurança pública e a necessidade de aprimorar a experiência do usuário no transporte coletivo. A empresa, líder na gestão de terminais de passageiros no Brasil, administra mais de 190 terminais rodoviários e aeroportuários, com um fluxo mensal de 130 milhões de passageiros.
Ele destaca que a sensação de vulnerabilidade no trajeto entre estações e a porta de casa leva muitas pessoas a preferir aplicativos de transporte, que oferecem mais conforto e segurança. “O que pesa para o transporte público é a segurança. A sensação de vulnerabilidade no caminho entre hubs, estações e a porta de casa faz com que muitas pessoas migrem para os aplicativos, que oferecem uma experiência luxuosa e planejada, com custos razoáveis” - afirma, enfatizando que os dados atuais representam um grave retrocesso para a mobilidade urbana, com impactos diretos nas cidades, no meio ambiente e na economia.
O aumento no número de veículos compromete a fluidez do trânsito, prolonga deslocamentos e sobrecarrega a infraestrutura viária. Esse cenário reduz a produtividade e encarece a logística urbana, afetando tanto empresas quanto cidadãos. Além disso, a saúde pública sofre consequências diretas. A alta emissão de poluentes intensifica doenças respiratórias e cardiovasculares, enquanto o trânsito excessivo eleva os níveis de estresse e reduz a qualidade de vida. O impacto sobre o sistema de saúde pressiona ainda mais os custos do Estado com tratamentos e internações.
Outro efeito preocupante é o aumento da desigualdade social. Com um transporte coletivo fragilizado, as pessoas que dependem desse serviço enfrentam dificuldades cada vez maiores. Quem tem poder aquisitivo recorre a alternativas como carros próprios ou aplicativos, enquanto as camadas mais vulneráveis ficam limitadas a um sistema sem investimentos adequados para atender à demanda com eficiência.
Estação de metrô em São Paulo, no dia 25 de janeiro de 2025 (Crédito: Paulo Pinto/Agência Brasil)
A ocupação do solo é outro ponto de atenção. Cidades que incentivam o transporte coletivo tendem a ser mais compactas e planejadas, enquanto a dependência excessiva do carro leva a um modelo urbano disperso, onde ruas e estacionamentos ocupam áreas que poderiam ser destinadas à infraestrutura social.
Diante desse cenário, o executivo defende que a criação de uma política pública estruturada é essencial para reverter essa tendência. Segundo ele, a solução não se limita a subsídios ou ajustes, mas exige um redesenho completo do sistema.
“A integração tarifária avançou, mas o maior desafio agora é a integração lógica: garantir que ônibus, metrôs, trens e outros modais operem de forma coordenada, conectando origem e destino de maneira eficiente. Sem isso, o transporte coletivo continuará perdendo espaço para o individual” - assegura.
Nesse sentido, ele destaca a Estratégia Nacional de Mobilidade Urbana, desenvolvida pelo BNDES, como um passo fundamental para corrigir a rota. O plano prevê diretrizes para os próximos 30 anos, com foco no equilíbrio entre modais e na atração de investimentos para infraestrutura de transporte coletivo, incluindo trilhos, metrôs, BRTs e a renovação da frota para modelos sustentáveis. A contratação de consultorias especializadas ao custo aproximado de R$27 milhões viabiliza um diagnóstico detalhado das principais cidades do país, com projeções e soluções adaptadas a cada realidade local.
Historicamente, a ausência de um marco regulatório e de uma estratégia nacional fragmentou a mobilidade urbana progressivamente, com estados e municípios desenvolvendo suas frotas de forma descoordenada. Agora, com o envolvimento do BNDES, esse cenário começa a mudar. Além de estruturar diretrizes, o banco assume o papel de financiador, peça-chave para que os projetos saiam do papel.
A Socicam participa ativamente da formulação da estratégia, colaborando com o BNDES na coleta de dados operacionais e informações detalhadas sobre terminais de passageiros, fluxos e desafios da integração física e lógica dos modais. Segundo o executivo, a empresa também contribui para a modelagem de soluções que aprimoram a conexão entre os sistemas de transporte, além de participar de discussões promovidas pelo GRI Club Infra.
A empresa aposta fortemente na transformação dos terminais em hubs de conveniência, abordagem que “aprimora a experiência do usuário e fortalece a competitividade do modal coletivo”. Nos terminais sob sua administração, já foram implementadas academias, mercados de proximidade e clínicas médicas, que permitem aos passageiros otimizar o tempo e evitar deslocamentos desnecessários.
Além dos esforços em infraestrutura de integração, a tecnologia tem desempenhado um papel essencial na modernização da mobilidade urbana. A inteligência artificial (IA) e os sistemas de monitoramento, por exemplo, já são uma peça fundamental nas operações da Socicam.
O Centro de Inteligência Integrada (CORE), antigo Centro de Controle Operacional (CCO), é um exemplo dessa inovação. No local, algoritmos de machine learning analisam em tempo real os 26 terminais e 44 estações de BRT, detectando anomalias automaticamente. O sistema identifica mudanças inesperadas no fluxo de pessoas, objetos abandonados, variações na temperatura e níveis elevados de poluição. Quando algo sai do padrão, um alerta imediato é enviado aos operadores, permitindo respostas rápidas que garantem a segurança e o conforto dos usuários. Além disso, câmeras e sensores inteligentes identificam passageiros com dificuldades de locomoção, possibilitando assistência prioritária.
Outra inovação citada por Wanderley é a detecção automática de odores específicos, incluindo substâncias ilícitas, o que contribui para um ambiente mais seguro. O executivo ressalta que a tecnologia será cada vez mais utilizada no aprimoramento e na integração dos diferentes modais de mobilidade urbana, principalmente no que diz respeito ao aprimoramento da experiência do passageiro.
“Mobilidade urbana é saúde pública, qualidade de vida e a forma como a cidade se organiza para garantir eficiência para todos. Sem um transporte coletivo forte e estruturado, a desigualdade cresce e as cidades ficam travadas no caos do trânsito e da exclusão” - finaliza.
Acompanhe de perto a evolução do setor - Confira a agenda de debates do GRI Clube para 2025!
Segundo a pesquisa Origem e Destino do Metrô de São Paulo, lançada em 2023 e publicada no início deste ano, o transporte individual superou o coletivo pela primeira vez na história, atingindo 51,2% contra 48,8%. O dado confirma uma tendência observada desde a década de 1960, quando o transporte coletivo representava quase 70% das viagens, enquanto o individual ficava na casa dos 30%.
Para Wanderley Galhiego Júnior, diretor de Relações Institucionais da Socicam, esse fenômeno tem relação direta com a segurança pública e a necessidade de aprimorar a experiência do usuário no transporte coletivo. A empresa, líder na gestão de terminais de passageiros no Brasil, administra mais de 190 terminais rodoviários e aeroportuários, com um fluxo mensal de 130 milhões de passageiros.
Ele destaca que a sensação de vulnerabilidade no trajeto entre estações e a porta de casa leva muitas pessoas a preferir aplicativos de transporte, que oferecem mais conforto e segurança. “O que pesa para o transporte público é a segurança. A sensação de vulnerabilidade no caminho entre hubs, estações e a porta de casa faz com que muitas pessoas migrem para os aplicativos, que oferecem uma experiência luxuosa e planejada, com custos razoáveis” - afirma, enfatizando que os dados atuais representam um grave retrocesso para a mobilidade urbana, com impactos diretos nas cidades, no meio ambiente e na economia.
O aumento no número de veículos compromete a fluidez do trânsito, prolonga deslocamentos e sobrecarrega a infraestrutura viária. Esse cenário reduz a produtividade e encarece a logística urbana, afetando tanto empresas quanto cidadãos. Além disso, a saúde pública sofre consequências diretas. A alta emissão de poluentes intensifica doenças respiratórias e cardiovasculares, enquanto o trânsito excessivo eleva os níveis de estresse e reduz a qualidade de vida. O impacto sobre o sistema de saúde pressiona ainda mais os custos do Estado com tratamentos e internações.
Outro efeito preocupante é o aumento da desigualdade social. Com um transporte coletivo fragilizado, as pessoas que dependem desse serviço enfrentam dificuldades cada vez maiores. Quem tem poder aquisitivo recorre a alternativas como carros próprios ou aplicativos, enquanto as camadas mais vulneráveis ficam limitadas a um sistema sem investimentos adequados para atender à demanda com eficiência.
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A ocupação do solo é outro ponto de atenção. Cidades que incentivam o transporte coletivo tendem a ser mais compactas e planejadas, enquanto a dependência excessiva do carro leva a um modelo urbano disperso, onde ruas e estacionamentos ocupam áreas que poderiam ser destinadas à infraestrutura social.
Diante desse cenário, o executivo defende que a criação de uma política pública estruturada é essencial para reverter essa tendência. Segundo ele, a solução não se limita a subsídios ou ajustes, mas exige um redesenho completo do sistema.
“A integração tarifária avançou, mas o maior desafio agora é a integração lógica: garantir que ônibus, metrôs, trens e outros modais operem de forma coordenada, conectando origem e destino de maneira eficiente. Sem isso, o transporte coletivo continuará perdendo espaço para o individual” - assegura.
Nesse sentido, ele destaca a Estratégia Nacional de Mobilidade Urbana, desenvolvida pelo BNDES, como um passo fundamental para corrigir a rota. O plano prevê diretrizes para os próximos 30 anos, com foco no equilíbrio entre modais e na atração de investimentos para infraestrutura de transporte coletivo, incluindo trilhos, metrôs, BRTs e a renovação da frota para modelos sustentáveis. A contratação de consultorias especializadas ao custo aproximado de R$27 milhões viabiliza um diagnóstico detalhado das principais cidades do país, com projeções e soluções adaptadas a cada realidade local.
Historicamente, a ausência de um marco regulatório e de uma estratégia nacional fragmentou a mobilidade urbana progressivamente, com estados e municípios desenvolvendo suas frotas de forma descoordenada. Agora, com o envolvimento do BNDES, esse cenário começa a mudar. Além de estruturar diretrizes, o banco assume o papel de financiador, peça-chave para que os projetos saiam do papel.
A Socicam participa ativamente da formulação da estratégia, colaborando com o BNDES na coleta de dados operacionais e informações detalhadas sobre terminais de passageiros, fluxos e desafios da integração física e lógica dos modais. Segundo o executivo, a empresa também contribui para a modelagem de soluções que aprimoram a conexão entre os sistemas de transporte, além de participar de discussões promovidas pelo GRI Club Infra.
A empresa aposta fortemente na transformação dos terminais em hubs de conveniência, abordagem que “aprimora a experiência do usuário e fortalece a competitividade do modal coletivo”. Nos terminais sob sua administração, já foram implementadas academias, mercados de proximidade e clínicas médicas, que permitem aos passageiros otimizar o tempo e evitar deslocamentos desnecessários.
Além dos esforços em infraestrutura de integração, a tecnologia tem desempenhado um papel essencial na modernização da mobilidade urbana. A inteligência artificial (IA) e os sistemas de monitoramento, por exemplo, já são uma peça fundamental nas operações da Socicam.
O Centro de Inteligência Integrada (CORE), antigo Centro de Controle Operacional (CCO), é um exemplo dessa inovação. No local, algoritmos de machine learning analisam em tempo real os 26 terminais e 44 estações de BRT, detectando anomalias automaticamente. O sistema identifica mudanças inesperadas no fluxo de pessoas, objetos abandonados, variações na temperatura e níveis elevados de poluição. Quando algo sai do padrão, um alerta imediato é enviado aos operadores, permitindo respostas rápidas que garantem a segurança e o conforto dos usuários. Além disso, câmeras e sensores inteligentes identificam passageiros com dificuldades de locomoção, possibilitando assistência prioritária.
Outra inovação citada por Wanderley é a detecção automática de odores específicos, incluindo substâncias ilícitas, o que contribui para um ambiente mais seguro. O executivo ressalta que a tecnologia será cada vez mais utilizada no aprimoramento e na integração dos diferentes modais de mobilidade urbana, principalmente no que diz respeito ao aprimoramento da experiência do passageiro.
“Mobilidade urbana é saúde pública, qualidade de vida e a forma como a cidade se organiza para garantir eficiência para todos. Sem um transporte coletivo forte e estruturado, a desigualdade cresce e as cidades ficam travadas no caos do trânsito e da exclusão” - finaliza.
Acompanhe de perto a evolução do setor - Confira a agenda de debates do GRI Clube para 2025!