Moody’s avalia risco de crédito e aponta caminhos para a estabilidade econômica

Em entrevista ao GRI Club, a agência explica a avaliação do Brasil e traz insights para o cenário financeiro da infraestrutura

4 de novembro de 2024Infraestrutura
Por Belén Palkovsky

A recente decisão da Moody's de elevar a nota de crédito do Brasil de Ba2 para Ba1, aproximando o país do cobiçado grau de investimento, traz uma série de questionamentos sobre o futuro da economia brasileira e seu apelo junto aos investidores internacionais. A agência de classificação creditícia destaca que a melhoria da nota reflete uma expectativa de crescimento econômico mais robusto, impulsionado por um histórico recente de reformas econômicas e fiscais que conferem resiliência ao perfil de crédito do país.

“Os avanços que o Brasil demonstrou, principalmente em termos de crescimento e resiliência fiscal, nos dão uma perspectiva positiva. Esse crescimento - que surpreendeu positivamente - é atribuído a uma combinação de fatores cíclicos e às reformas econômicas e fiscais” - afirma Mark E. Almeida, presidente da Moody's. Para a agência, o cumprimento rigoroso do quadro fiscal é fundamental para estabilizar a dívida e manter a confiança do mercado.

Apesar da elevação da nota, a Moody’s ressalta que o custo elevado da dívida pública e a credibilidade limitada do quadro fiscal ainda representam desafios. No médio prazo, o cumprimento contínuo do quadro fiscal é essencial para que o ônus da dívida se estabilize, elevando a confiança do mercado. Medidas para flexibilizar os gastos públicos e implementar reformas fiscais estruturais de controle de gastos obrigatórios são vistas como indispensáveis para a manutenção e potencial elevação adicional da nota de crédito. Como a agência afirma, “a eficácia das políticas públicas e a credibilidade das instituições podem se refletir em prêmios de risco mais baixos e uma dinâmica de dívida mais favorável”.

Outro ponto de atenção é a taxa básica de juros, que se manterá elevada até o final de 2024. A Moody's avalia que esse panorama impacta principalmente setores dependentes do mercado interno e de financiamento, limitando a acessibilidade da dívida. O Banco Central subiu a Selic a 10,75% na última reunião, mas o cenário de subida de juros permanece até 2026. Em contrapartida, o ciclo de redução da taxa de juros nos EUA poderá estimular o fluxo de capital externo, fortalecendo os mercados de capitais no Brasil.

Para setores emergentes, como o de data centers, que dependem de infraestrutura energética, a Moody 's vê o Brasil como um destino atrativo. O país possui uma matriz energética diversificada e uma oferta de eletricidade renovável relativamente barata, fatores que atraem investimentos na área de tecnologia. 

No entanto, a agência destaca a necessidade de expansão da infraestrutura elétrica, em especial no Nordeste, onde a alta concentração de projetos eólicos e solares enfrenta limitações de escoamento na rede de transmissão. 

“É essencial que o Brasil renove seu compromisso com a infraestrutura energética para sustentar esse desenvolvimento tecnológico e atender à crescente demanda” alerta a agência. 

Além da energia, o setor de saneamento básico também se mostra promissor, especialmente com o novo marco regulatório, que estabelece metas de universalização até 2033.

A agência aponta que a universalização do acesso a água e esgoto é uma oportunidade de investimento com forte atratividade para o capital privado. Com apoio do BNDES, leilões bilionários estão previstos em estados como Pará e Pernambuco, visando a ampliação dos serviços de água e esgoto. A privatização da Sabesp é outro bom exemplo.

Segundo a Moody’s, o setor possui estabilidade regulatória, o que facilita o financiamento de longo prazo e mantém a demanda inelástica. No entanto, a alta alavancagem de algumas empresas do setor devido aos investimentos intensivos levanta um alerta sobre a necessidade de políticas de liquidez sólidas.

Com os avanços nas reformas e a consolidação de um cenário fiscal mais estável, a Moody's acredita que o Brasil tem a chance de avançar na confiança dos investidores e reduzir o custo de sua dívida. Contudo, a agência reforça que a trajetória da nota de crédito dependerá da capacidade do país de demonstrar compromisso contínuo com as reformas fiscais e de infraestrutura. 

A perspectiva positiva está, portanto, condicionada a um cenário de estabilidade e disciplina, que permitirão ao país não apenas reduzir riscos, mas também conquistar confiança internacional e alcançar a estabilidade econômica.