Novo eixo viário transforma logística e acelera o progresso em Santa Catarina

Arteris, concessionária responsável pela maior obra rodoviária do Brasil nos últimos anos, fala com exclusividade sobre o projeto

7 de maio de 2025Infraestrutura
Por Belén Palkovsky

O Contorno Viário de Florianópolis é atualmente a maior obra rodoviária já entregue no Brasil. Com 50 quilômetros de extensão em pista dupla, o projeto demandou um investimento aproximado de R$4 bilhões e, desde sua inauguração em agosto de 2024, já transformou a mobilidade na região metropolitana da capital catarinense. 

Os impactos se dão tanto de forma direta, com a redução no tempo de deslocamento e nos índices de acidentes, quanto de maneira indireta, ao impulsionar o desenvolvimento econômico local. A região adjacente ao contorno passou a atrair projetos de centros de distribuição, instalações industriais e empreendimentos residenciais. Segundo a Arteris, responsável pela obra, diversas empresas e incorporadoras já apresentaram pedidos formais para construção de acessos diretos à nova rodovia - um procedimento técnico e regulado que permite a conexão de empreendimentos privados à malha viária. Esses pedidos indicam, na prática, o potencial do contorno como novo eixo de crescimento para a região.

“Já recebemos dezenas de depoimentos. O contorno trouxe uma perspectiva diferente para quem está na região, tanto do ponto de vista logístico quanto do ponto de vista do desenvolvimento urbano.”

Ao desviar o tráfego pesado da BR-101, que antes atravessava áreas densamente urbanizadas, a obra aliviou os congestionamentos em municípios como Biguaçu, São José e Palhoça. Como consequência, os acessos à ilha de Florianópolis tornaram-se significativamente mais fluidos. Trechos que antes exigiam até 1h30 de trajeto passaram a ser percorridos em apenas 40 minutos, mesmo nos horários de pico. Com a redistribuição do tráfego, a segurança viária também melhorou: houve redução de 33% nos óbitos e quase 50% nas colisões traseiras.

Em entrevista exclusiva ao GRI Club, Giane Zimmer, diretora de Relações Institucionais e Regulatórias da Arteris, e Antonio Cesar Ribas Sass, diretor de operações sul, compartilharam os bastidores da entrega do contorno. Ambos reforçam que o êxito da obra não se deve apenas à engenharia envolvida, mas à capacidade da concessionária de articular com instituições públicas, engajar os diversos stakeholders e manter uma comunicação consistente com a sociedade.

“Tínhamos quase 2 mil trabalhadores e mais de 500 equipamentos em operação, mas como o trecho estava em uma área pouco visível, a sociedade não percebia o que estava acontecendo. A comunicação foi fundamental para mostrar a dimensão do projeto e conquistar a confiança dos entes públicos e da população”.

A Arteris aposta em um modelo de concessão que valoriza a inovação na entrega final. Por exemplo, o sistema de túneis do contorno está equipado com sensores de fumaça, ventiladores, câmeras com detecção de imagem e protocolos de segurança automatizados, iniciativas consideradas raras no setor. Ainda, o sistema de evacuação - com galerias interligadas a cada 300 metros - permite o resgate rápido e seguro em caso de emergência. A alimentação elétrica da infraestrutura exigiu a construção de uma nova rede de alta tensão com cerca de 17 quilômetros, o que evidencia a complexidade logística envolvida. 

“Este sistema já foi testado em incidentes reais e tudo correu como esperado”. 

Do ponto de vista ambiental, o contorno se destaca pelas práticas exemplares adotadas ao longo da sua construção. Durante a obra, foram implementados 13 programas ambientais e diversos subprogramas, além da construção de 25 passagens de fauna para preservar os corredores ecológicos da região. Mais de 1.400 animais silvestres foram resgatados e soltos com segurança, e cerca de 240 mil plantas nativas foram transplantadas. Também foram identificados cinco sítios arqueológicos, todos devidamente preservados. Atualmente, a melhora na fluidez do tráfego já contribui para a redução das emissões de CO₂. 

“Além de entregar a maior obra rodoviária do país, fechamos todos os condicionantes ambientais com excelência. Isso é motivo de orgulho para toda a companhia”.

Apesar do sucesso, o processo até a entrega da obra foi complexo e desafiador. O traçado original precisou ser revisto devido à ocupação urbana de áreas previamente desapropriadas. Esse cenário exigiu um redesenho completo da engenharia do trecho sul, especialmente em Palhoça. As dificuldades envolveram desde aspectos fundiários até questões ambientais.

O ponto de virada ocorreu em 2019, com a retomada das negociações junto ao Ministério dos Transportes e à ANTT. A Arteris obteve autorização para reequilíbrio contratual, incluindo o reajuste tarifário, o que permitiu a captação de mais de R$2 bilhões via debêntures, com apoio adicional do BNDES. A partir daí, a obra entrou em uma fase acelerada de execução.

“Era uma obra prioritária, muito esperada pela população e pelos entes públicos”.

Entre as principais lições aprendidas, a diretora da Arteris destaca a necessidade de uma gestão integrada desde o início, com atenção constante à evolução do território e à interlocução com os múltiplos agentes envolvidos. A demora na obtenção de licenças e a ocupação irregular de áreas essenciais ao projeto resultaram em replanejamentos complexos. 

A concessionária defende que os entes reguladores também passem a operar com prazos definidos, como já ocorre com as empresas privadas, a fim de evitar novos entraves. A comunicação institucional, reforçada por uma estratégia de engajamento com imprensa, autoridades e sociedade civil, foi determinante para garantir a continuidade do projeto.

“No início, não havia uma visão holística. Quando conseguimos implantar essa gestão integrada, tudo mudou”.

Atualmente, a Arteris concentra seus esforços em cinco concessões federais que estão em processo de repactuação. O foco da empresa é redesenhar seu portfólio para os próximos anos, com contratos atualizados e novas metas de investimento. 

A companhia trata o processo como uma reestruturação comparável a um M&A. Ao final das repactuações, haverá leilões nos quais a Arteris poderá disputar os ativos com outros players de mercado ou mantê-los, caso apresente a melhor oferta. Esse modelo busca superar os gargalos das antigas relicitações, encurtando os prazos para a retomada de obras prioritárias e evitando a paralisação prolongada de serviços.

Com acionistas de peso - a canadense Brookfield e a espanhola Abertis -, a Arteris pretende expandir seu portfólio de concessões, mas sem comprometer sua solidez financeira. A participação em novos projetos, inclusive concessões estaduais como as de São Paulo, será avaliada com cautela, somente após a conclusão das repactuações em curso.

“Assim que tivermos clareza sobre quais ativos permanecerão em nosso portfólio, poderemos avaliar novas oportunidades com responsabilidade e solidez”.