Pipeline portuário de R$145 bi consolida o Brasil nas cadeias globais de valor

Com faturamento recorde, CODEBA impulsiona o setor no Nordeste e reforça o potencial da parceria público-privada na infraestrutura

10 de fevereiro de 2025Infraestrutura
Por Belén Palkovsky 

Nos próximos dois anos, os portos brasileiros verão um período de intensa modernização, impulsionados por um robusto pipeline de concessões planejado pelo Ministério de Portos e Aeroportos. O pacote de investimentos soma R$145 bilhões e tem como principal objetivo eliminar gargalos logísticos e ampliar a capacidade de receber embarcações de maior porte, essenciais para a integração do Brasil às cadeias globais de valor.

Entre os projetos prioritários, destaca-se o TECON Santos 10, que prevê mais de R$4 bilhões para expandir a capacidade do Porto de Santos e elevar a movimentação para até 3 milhões de TEUs anuais, o que consolidará o terminal como um dos mais eficientes da América Latina. No Sul, a concessão do Canal de Paranaguá visa ampliar o calado de 11,5 metros para 15 metros, o que dobrará a capacidade operacional do porto e reduzirá os custos logísticos para os exportadores.

Outros projetos incluem a modernização do Porto de São Sebastião, especializado em cargas químicas, e a digitalização do setor por meio do programa Porto Sem Papel, que integrará as operações portuárias em todo o país até o final de 2025. Também estão previstas ampliações estratégicas nos portos de Itaqui (MA) e Vila do Conde (PA), fundamentais para o escoamento do agronegócio e do setor energético no Norte e Nordeste.

Paralelamente, a concessão dos canais de acesso de Santos, Rio Grande e Itajaí também estão no radar do ministério, com obras voltadas para o aprofundamento das vias marítimas para atracação de embarcações de grande porte. 

Contudo, o projeto mais ambicioso do setor é a construção do Túnel Santos-Guarujá, um investimento de R$5,96 bilhões. O empreendimento, estruturado como uma parceria público-privada (PPP), está em análise pelo Tribunal de Contas da União (TCU), com previsão de publicação do edital no segundo trimestre de 2025 e leilão no terceiro. As obras devem começar no segundo semestre de 2025, com conclusão estimada para 2030. A infraestrutura beneficiará diretamente cerca de 2 milhões de pessoas ao otimizar o fluxo das cargas e diminuir drasticamente o tempo de transporte. 

Enquanto o foco nacional está voltado para esses investimentos, a Companhia das Docas do Estado da Bahia (CODEBA) vem reforçando o papel do Nordeste na modernização portuária. Em 2024, a estatal registrou o maior volume de investimentos de sua história, tanto em valores absolutos quanto percentuais. Foram R$34 milhões aplicados, com 55,13% do orçamento anual executado - quase o dobro do maior percentual anterior. Além disso, os portos sob sua administração movimentaram um volume recorde de 13,7 milhões de toneladas, resultando na ocupação total da área alfandegada em novembro e dezembro, um feito inédito.

Os resultados foram apresentados por Antonio Gobbo, presidente da CODEBA e membro do GRI Club, e pelo diretor de Gestão Administrativa e Financeira, Leandro Gaudenzi, ao Ministério de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho

O faturamento da estatal atingiu R$285 milhões, o maior da série histórica iniciada em 2012, ultrapassando a marca do ano anterior. O destaque ficou por conta do Porto de Salvador, que registrou um crescimento de 26,33% na movimentação de cargas, totalizando cerca de 7 milhões de toneladas, equivalente a 50% das operações portuárias do estado. Esse aumento resultou na ocupação total da área alfandegada nos últimos dois meses do ano, um reflexo da maior demanda, otimização dos fluxos operacionais e administrativos e mudanças no modelo de gestão. Obras e intervenções estratégicas no terminal consolidaram a Bahia como um hub logístico ao fortalecer conexões diretas com a Ásia.

Para 2025, a CODEBA tem entre suas prioridades a reativação da Hidrovia do São Francisco, que poderá agregar aproximadamente 5 milhões de toneladas ao volume anual de cargas movimentadas nos portos da Baía de Todos-os-Santos. 

A CODEBA, sociedade de economia mista vinculada ao Ministério da Infraestrutura, administra os portos de Salvador, Aratu-Candeias e Ilhéus, adotando o modelo de gestão portuária Landlord Port. Nesse sistema, a autoridade portuária mantém a propriedade da infraestrutura terrestre e arrenda áreas para operadores privados, que conduzem as operações portuárias. 

Esse modelo, que combina controle público com eficiência privada, além de render ótimos resultados para a sociedade e para a indústria, está em sintonia com os planos do ministério para modernizar os portos nacionais e aumentar a competitividade logística do país.

Confira a entrevista exclusiva do GRI Club com Antonio Gobbo, registrada durante a última edição do Brazil GRI Infra & Energy: