Players e autoridades debatem o avanço da transição energética no Brasil
Discussões destacaram a modernização, o planejamento estratégico e a incorporação de fontes renováveis como pilares fundamentais
24 de novembro de 2023Infraestrutura
Por Henrique Cisman
Membros do GRI Club Infra se reuniram para dois dias de diálogo entre si e com autoridades públicas a fim de debater o panorama da infraestrutura e energia no Brasil, visando destravar o grande potencial de investimentos no setor.
O encontro foi realizado em São Paulo e trouxe uma agenda robusta contemplando diversos subsegmentos, como transportes, mobilidade urbana, saneamento básico, energia e infraestrutura social.
Confira a seguir os principais insights relacionados à transição energética.
Segundo membros do GRI Club Infra, é necessário haver mais discussão e transparência em relação à definição dos subsídios, de modo que os preços para o consumidor sejam mais equilibrados e se garanta a competitividade no mercado.
Mesmo com os reservatórios de água cheios e preços mais baixos da energia ao longo do ano, ainda há solavancos com subida do preço em horários específicos do dia, o que, segundo os participantes, cria uma nova dinâmica para o setor em termos de despacho e combinação de fontes.
Para alguns executivos, falta diálogo entre os players do setor: "Iniciativa privada e governo não estão alinhados para superar essas ineficiências e garantir sustentabilidade econômico-financeira". Para ilustrar a fala, foram indicados os aumentos nos preços da energia no Amapá e no Acre, nas ordens de 44% e 22%, respectivamente.
De acordo com os participantes, a melhor política de subsídios é a complementariedade. Há um descontentamento com o alto custo da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), encargo setorial pago pelas empresas de distribuição a fim de viabilizar a competitividade de fontes como eólica, solar, pequenas usinas hidrelétricas e biomassa, dentre outras.
A Frente Nacional dos Consumidores de Energia estima que do volume total pago em tarifas de energia elétrica em 2023, que supera R$ 340 bilhões, cerca de 40% se referem a tributos e encargos da CDE. "Existe um alto número de subsídios e pouca importância é dada a quem vai pagar essa conta", diz um executivo.
Por fim, destaca-se o maior protagonismo de novas fontes na matriz energética brasileira em um curto espaço de tempo, com as eólicas e solares já representando cerca de 20% do total, seja pelos incentivos, seja pelos menores custos de CAPEX nos projetos consoante o desenvolvimento da cadeia de fornecedores.
Neste sentido, o governo federal buscará:
(i) interligar as regiões isoladas com o Sistema Interligado Nacional;
(ii) hibridizar os locais onde não for possível fazer a interligação;
(iii) substituir diesel por gás.
Outros temas que estão na agenda do governo são a realização de três leilões de transmissão com investimentos estimados em R$ 60 bilhões entre 2023 e 2024, e a renovação das concessões de distribuição vincendas. No âmbito do Congresso Nacional, são mencionados os projetos de lei em tramitação sobre hidrogênio verde, combustível do futuro e transição energética.
Há consenso em relação à necessidade de pensar formas de incentivar as novas fontes de energia que não envolvam subsídios, uma vez que eles recaem sobre a conta do consumidor final. Da perspectiva de investimentos, principalmente externos, reforça-se a importância de ter intencionalidade ao investir em renováveis, com documentos e dispositivos que comprovem os atributos verdes.
Em relação ao hidrogênio verde, há uma preocupação com o alto custo que o produto terá no Brasil em comparação aos preços praticados em outros países. Alguns participantes reforçam a necessidade de um arcabouço regulatório que possibilite os investimentos privados. Na contramão, outros destacam que o foco em hidrogênio verde, neste momento, é “irreal”, visto que deve demorar mais tempo para implementar a produção no Brasil - e o preço será alto.
Assim, alguns executivos enfatizam a importância de discutir "problemas reais" do setor energético, como o apagão ocorrido em 2023, os impactos da expansão da participação de fontes intermitentes na matriz energética brasileira e o preço da energia. Nesse ponto, comentam que o modelo econômico do setor de energia precisa de um reset. Sobre essas questões, os participantes concordam com a importância de serem feitos ajustes regulatórios.
Mencionam, ainda, a necessidade de isonomia entre as fontes de energia e de estudos para diminuir a volatilidade dos preços, bem como a importância de investimentos em tecnologia que integrem as fontes renováveis de energia ao atual sistema e aumentem a segurança energética do Brasil.
As decisões tomadas hoje estão considerando o PLD baixo, mas há variáveis - principalmente climáticas - que devem ser levadas em consideração para a decisão de investimentos. Os executivos acreditam que a explosão tarifária vai acontecer e concordam que é fácil embutir subsídios na conta de luz, bem como reforçam que o sistema elétrico precisa diminuir os subsídios cruzados.
Entende-se que o CAPEX tem diminuído bastante, principalmente na geração de energia solar. Sobre as eólicas, as formas de investimento estão sendo reestruturadas. É necessária política de longo prazo que permita verificar os impactos dos subsídios, que deve promover a melhora da economia como um todo, não somente de parte do setor elétrico.
Pela regulação brasileira ainda ser incipiente, é importante ter um teto de preços. Para criá-lo, é necessário ter maturidade na regulação e no desenvolvimento do setor. Os executivos defendem que o mercado livre de energia é a solução, mas que há um problema na forma como tem sido feita a migração dos consumidores para esse modelo.
A matriz energética precisa de um mix com base termelétrica, hídrica e de renováveis. Há um problema na intermitência da fonte solar, que hoje é compensado pela geração hidrelétrica, mas precisa ser melhor endereçado. O investimento em armazenamento de energia se apresenta como solução para diminuir a intermitência. No entanto, há consenso de que não existe sinal de mercado para entrada do armazenamento no Brasil. Os participantes concordam que esse tema deve ser debatido no planejamento energético e as projeções devem ser transparentes.
No novo contexto de economia de baixo carbono, reitera-se que o Brasil tem que assumir papel de liderança e se posicionar como protagonista na agenda da transição energética, vendendo-se para o mundo como potência em energias renováveis, inclusive biomassa e gás natural. Alguns participantes concordam que o mercado de hidrogênio não pode depender da Europa - deve-se focar no mercado interno para fertilizantes, mineração e siderurgia.
Em análise das experiências internacionais, a faixa temporal dos últimos cinco anos mostra que Ásia, África, Europa e Oriente Médio devem avançar significativamente nessa fonte no curto prazo. Já o Brasil é apontado como pouco eficiente por ter uma indústria nacional solar e eólica mais sólida. A corrida por eletrolisadores é um desafio para a indústria nacional - em um momento que o mercado vem demandando esses produtos.
Atualmente, o preço da tonelada do hidrogênio verde é de U$$ 6, e a previsãopara os próximos cinco anos é que caia para U$$ 2 por tonelada. O grande empecilho desses projetos não é o custo, segundo os executivos, e sim a regulação, certificação e taxonomia da cadeia. Outras fontes derivadas do hidrogênio que apresentam oportunidades são o hidrogênio de baixo carbono, de biogás e biometano.
Em resposta a perguntas sobre o olhar do investidor para o desafio na análise preliminar do setor, aponta-se como necessária a existência de contratos que garantam volume e preço. A equação é sempre a moderação da alavancagem, temporal e financeira, sendo destaque a necessidade de mitigação de risco enquanto não há contratos vigentes. Os ativos térmicos – sob uma perspectiva qualitativa – foram indicados para a comparação com parâmetros do hidrogênio verde, apesar de terem mais histórico e benchmark.
No quesito operacionalização, destaca-se a dependência entre contrapartes devido à imaturidade do mercado, especialmente em função da falta de mão de obra especializada. A necessidade e o risco de contratação recebem foco especial, uma vez que podem ser fator gerador de atrasos e, consequentemente, mais custos.
Sobre energias alternativas ao hidrogênio, a amônia verde é mencionada, a exemplo do potencial que a Austrália tem de produção, juntamente com o leste asiático e o Japão. O Brasil ainda pode aproveitar a produção de amônia verde para navegação e ferrovias.
Em relação aos desafios logísticos e técnicos para frotas movidas a hidrogênio verde, o impacto de sua utilização é nulo no preço final, já que a energia elétrica é mais barata. O benefício reside no CAPEX, pois a infraestrutura necessária envolvida na promoção de mobilidade urbana em novos projetos - baseada em energia elétrica - é mais cara do que a implantação por hidrogênio verde. O custo de manutenção de projetos com hidrogênio verde também é menor, sendo menos recorrente. Portanto, o hidrogênio se justifica em novos projetos, com um custo competitivo para o futuro.
O hidrogênio verde usado nas locomotivas em funcionamento na China se dá na forma líquida e possibilita a rodagem de mais de 1.000 km com uma carga – um VLT se desloca por cerca de 150 km. A diferença entre o trem movido a energia elétrica e outro movido a hidrogênio verde reside na existência de um módulo a mais no segundo, que converte hidrogênio em energia elétrica.
No rol de gargalos regulatórios, ganha ênfase a carência de normas e, como ponto recorrente, a preocupação com o atraso na regulação do hidrogênio verde. Caso não haja uma padronização, há possibilidade de restrição do Brasil em relação ao mercado mundial. A CCE é vista como ator em busca do protagonismo na regulação e certificação, de forma mais maleável. Reforça-se que os certificadores - para além do Estado - podem facilitar a convergência com o mercado mundial. Por isso, defende-se uma regulação mais “soft”, criada e capitaneada pelo mercado, que traga mais convergência com parâmetros internacionais.
Por fim, destaca-se a necessidade de: i) evitar a classificação do hidrogênio verde como combustível; ii) analisar quais políticas públicas realmente são essenciais para o setor; iii) implementar competências de agentes públicos que englobem hidrogênio verde. Para os executivos, está descartada uma revolução no setor.
Membros do GRI Club Infra se reuniram para dois dias de diálogo entre si e com autoridades públicas a fim de debater o panorama da infraestrutura e energia no Brasil, visando destravar o grande potencial de investimentos no setor.
O encontro foi realizado em São Paulo e trouxe uma agenda robusta contemplando diversos subsegmentos, como transportes, mobilidade urbana, saneamento básico, energia e infraestrutura social.
Confira a seguir os principais insights relacionados à transição energética.
As discussões reuniram grandes nomes do mercado de energia no Brasil (imagem: João de Faria/GRI Club)
Modernização do setor elétrico - Como superar ineficiências e garantir sustentabilidade econômico-financeira?
O ponto central do debate sobre a modernização do setor elétrico é o equilíbrio entre subsídios para fontes renováveis e o custo da energia para o consumidor final, em um contexto de atualização da matriz energética - que durante décadas foi majoritariamente formada por hidrelétricas. Nos últimos 30 anos, a participação dessa fonte caiu de aproximadamente 90% para pouco mais de 56% na atualidade.Segundo membros do GRI Club Infra, é necessário haver mais discussão e transparência em relação à definição dos subsídios, de modo que os preços para o consumidor sejam mais equilibrados e se garanta a competitividade no mercado.
Sessão sobre modernização do setor elétrico aconteceu em formato de mesa redonda (imagem: João de Faria/GRI Club)
Mesmo com os reservatórios de água cheios e preços mais baixos da energia ao longo do ano, ainda há solavancos com subida do preço em horários específicos do dia, o que, segundo os participantes, cria uma nova dinâmica para o setor em termos de despacho e combinação de fontes.
Para alguns executivos, falta diálogo entre os players do setor: "Iniciativa privada e governo não estão alinhados para superar essas ineficiências e garantir sustentabilidade econômico-financeira". Para ilustrar a fala, foram indicados os aumentos nos preços da energia no Amapá e no Acre, nas ordens de 44% e 22%, respectivamente.
De acordo com os participantes, a melhor política de subsídios é a complementariedade. Há um descontentamento com o alto custo da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), encargo setorial pago pelas empresas de distribuição a fim de viabilizar a competitividade de fontes como eólica, solar, pequenas usinas hidrelétricas e biomassa, dentre outras.
A Frente Nacional dos Consumidores de Energia estima que do volume total pago em tarifas de energia elétrica em 2023, que supera R$ 340 bilhões, cerca de 40% se referem a tributos e encargos da CDE. "Existe um alto número de subsídios e pouca importância é dada a quem vai pagar essa conta", diz um executivo.
Por fim, destaca-se o maior protagonismo de novas fontes na matriz energética brasileira em um curto espaço de tempo, com as eólicas e solares já representando cerca de 20% do total, seja pelos incentivos, seja pelos menores custos de CAPEX nos projetos consoante o desenvolvimento da cadeia de fornecedores.
Silvio Rocha (Dal Pozzo Advogados) moderou o debate (imagem: João de Faria/GRI Club)
Planejamento energético - Como amadurecer modelos de negócios para a transição?
Com a participação de representantes do Ministério de Minas e Energia e Ministério do Meio Ambiente, o debate sobre o amadurecimento de modelos de negócios para a transição energética destacou a necessidade de integração, que será incrementada pelo Programa Energias da Amazônia.Neste sentido, o governo federal buscará:
(i) interligar as regiões isoladas com o Sistema Interligado Nacional;
(ii) hibridizar os locais onde não for possível fazer a interligação;
(iii) substituir diesel por gás.
Outros temas que estão na agenda do governo são a realização de três leilões de transmissão com investimentos estimados em R$ 60 bilhões entre 2023 e 2024, e a renovação das concessões de distribuição vincendas. No âmbito do Congresso Nacional, são mencionados os projetos de lei em tramitação sobre hidrogênio verde, combustível do futuro e transição energética.
Há consenso em relação à necessidade de pensar formas de incentivar as novas fontes de energia que não envolvam subsídios, uma vez que eles recaem sobre a conta do consumidor final. Da perspectiva de investimentos, principalmente externos, reforça-se a importância de ter intencionalidade ao investir em renováveis, com documentos e dispositivos que comprovem os atributos verdes.
Walfrido Ávila (Tradener) participa da discussão (imagem: João de Faria/GRI Club)
Em relação ao hidrogênio verde, há uma preocupação com o alto custo que o produto terá no Brasil em comparação aos preços praticados em outros países. Alguns participantes reforçam a necessidade de um arcabouço regulatório que possibilite os investimentos privados. Na contramão, outros destacam que o foco em hidrogênio verde, neste momento, é “irreal”, visto que deve demorar mais tempo para implementar a produção no Brasil - e o preço será alto.
Assim, alguns executivos enfatizam a importância de discutir "problemas reais" do setor energético, como o apagão ocorrido em 2023, os impactos da expansão da participação de fontes intermitentes na matriz energética brasileira e o preço da energia. Nesse ponto, comentam que o modelo econômico do setor de energia precisa de um reset. Sobre essas questões, os participantes concordam com a importância de serem feitos ajustes regulatórios.
Mencionam, ainda, a necessidade de isonomia entre as fontes de energia e de estudos para diminuir a volatilidade dos preços, bem como a importância de investimentos em tecnologia que integrem as fontes renováveis de energia ao atual sistema e aumentem a segurança energética do Brasil.
Representantes do Ministério contam aos participantes o planejamento energético por parte do governo (imagem: João de Faria/GRI Club)
Renováveis - Como tornar mais robustos os incentivos à geração limpa?
O debate sobre renováveis visa achar caminhos para incentivar a geração limpa e renovável no cenário atual de fim de subsídios, juros e CAPEX altos e preço da energia baixo. Há consenso de que o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), apesar do momento de baixa, deve alcançar seu teto em breve. Essa variação se deve ao desenho do mercado de energia brasileiro, que leva a i) sobreoferta ou ii) déficit de energia. Existe um espaço de tempo entre a tomada de decisão para construção de uma usina e o pleno funcionamento dela para fornecimento de energia, fator que deve ser considerado.As decisões tomadas hoje estão considerando o PLD baixo, mas há variáveis - principalmente climáticas - que devem ser levadas em consideração para a decisão de investimentos. Os executivos acreditam que a explosão tarifária vai acontecer e concordam que é fácil embutir subsídios na conta de luz, bem como reforçam que o sistema elétrico precisa diminuir os subsídios cruzados.
Entende-se que o CAPEX tem diminuído bastante, principalmente na geração de energia solar. Sobre as eólicas, as formas de investimento estão sendo reestruturadas. É necessária política de longo prazo que permita verificar os impactos dos subsídios, que deve promover a melhora da economia como um todo, não somente de parte do setor elétrico.
Players compartilham estratégias para promover o desenvolvimento de energias renováveis (imagem: João de Faria/GRI Club)
Pela regulação brasileira ainda ser incipiente, é importante ter um teto de preços. Para criá-lo, é necessário ter maturidade na regulação e no desenvolvimento do setor. Os executivos defendem que o mercado livre de energia é a solução, mas que há um problema na forma como tem sido feita a migração dos consumidores para esse modelo.
A matriz energética precisa de um mix com base termelétrica, hídrica e de renováveis. Há um problema na intermitência da fonte solar, que hoje é compensado pela geração hidrelétrica, mas precisa ser melhor endereçado. O investimento em armazenamento de energia se apresenta como solução para diminuir a intermitência. No entanto, há consenso de que não existe sinal de mercado para entrada do armazenamento no Brasil. Os participantes concordam que esse tema deve ser debatido no planejamento energético e as projeções devem ser transparentes.
No novo contexto de economia de baixo carbono, reitera-se que o Brasil tem que assumir papel de liderança e se posicionar como protagonista na agenda da transição energética, vendendo-se para o mundo como potência em energias renováveis, inclusive biomassa e gás natural. Alguns participantes concordam que o mercado de hidrogênio não pode depender da Europa - deve-se focar no mercado interno para fertilizantes, mineração e siderurgia.
Da esquerda para direita: André Salgado (EDF Renewables), Marcus Macedo (AON) e Felipe Turon (Grupo Águas do Brasil) (imagem: João de Faria/GRI Club)
Hidrogênio verde - Melhor caminho para descarbonizar setores produtivos?
Os membros do GRI Club Infra indicam alguns pontos principais para o desenvolvimento do hidrogênio verde no Brasil: (i) escala da produção, (ii) corrida internacional por eletrolisadores, (iii) diminuição progressiva do custo e (iv) diferença de preço em relação à energia elétrica. Também foram citados os desafios regulatórios e a tentativa atual para sua estruturação. O hidrogênio verde já foi testado em pequena escala em termelétricas e usinas fotovoltaicas, sendo necessária certificação pela CCE.Em análise das experiências internacionais, a faixa temporal dos últimos cinco anos mostra que Ásia, África, Europa e Oriente Médio devem avançar significativamente nessa fonte no curto prazo. Já o Brasil é apontado como pouco eficiente por ter uma indústria nacional solar e eólica mais sólida. A corrida por eletrolisadores é um desafio para a indústria nacional - em um momento que o mercado vem demandando esses produtos.
Atualmente, o preço da tonelada do hidrogênio verde é de U$$ 6, e a previsãopara os próximos cinco anos é que caia para U$$ 2 por tonelada. O grande empecilho desses projetos não é o custo, segundo os executivos, e sim a regulação, certificação e taxonomia da cadeia. Outras fontes derivadas do hidrogênio que apresentam oportunidades são o hidrogênio de baixo carbono, de biogás e biometano.
Em resposta a perguntas sobre o olhar do investidor para o desafio na análise preliminar do setor, aponta-se como necessária a existência de contratos que garantam volume e preço. A equação é sempre a moderação da alavancagem, temporal e financeira, sendo destaque a necessidade de mitigação de risco enquanto não há contratos vigentes. Os ativos térmicos – sob uma perspectiva qualitativa – foram indicados para a comparação com parâmetros do hidrogênio verde, apesar de terem mais histórico e benchmark.
Rodrigo Sarmento Barata (Madrona Advogados) em sessão sobre hidrogênio verde (imagem: João de Faria/GRI Club)
No quesito operacionalização, destaca-se a dependência entre contrapartes devido à imaturidade do mercado, especialmente em função da falta de mão de obra especializada. A necessidade e o risco de contratação recebem foco especial, uma vez que podem ser fator gerador de atrasos e, consequentemente, mais custos.
Sobre energias alternativas ao hidrogênio, a amônia verde é mencionada, a exemplo do potencial que a Austrália tem de produção, juntamente com o leste asiático e o Japão. O Brasil ainda pode aproveitar a produção de amônia verde para navegação e ferrovias.
Em relação aos desafios logísticos e técnicos para frotas movidas a hidrogênio verde, o impacto de sua utilização é nulo no preço final, já que a energia elétrica é mais barata. O benefício reside no CAPEX, pois a infraestrutura necessária envolvida na promoção de mobilidade urbana em novos projetos - baseada em energia elétrica - é mais cara do que a implantação por hidrogênio verde. O custo de manutenção de projetos com hidrogênio verde também é menor, sendo menos recorrente. Portanto, o hidrogênio se justifica em novos projetos, com um custo competitivo para o futuro.
O hidrogênio verde usado nas locomotivas em funcionamento na China se dá na forma líquida e possibilita a rodagem de mais de 1.000 km com uma carga – um VLT se desloca por cerca de 150 km. A diferença entre o trem movido a energia elétrica e outro movido a hidrogênio verde reside na existência de um módulo a mais no segundo, que converte hidrogênio em energia elétrica.
No rol de gargalos regulatórios, ganha ênfase a carência de normas e, como ponto recorrente, a preocupação com o atraso na regulação do hidrogênio verde. Caso não haja uma padronização, há possibilidade de restrição do Brasil em relação ao mercado mundial. A CCE é vista como ator em busca do protagonismo na regulação e certificação, de forma mais maleável. Reforça-se que os certificadores - para além do Estado - podem facilitar a convergência com o mercado mundial. Por isso, defende-se uma regulação mais “soft”, criada e capitaneada pelo mercado, que traga mais convergência com parâmetros internacionais.
Por fim, destaca-se a necessidade de: i) evitar a classificação do hidrogênio verde como combustível; ii) analisar quais políticas públicas realmente são essenciais para o setor; iii) implementar competências de agentes públicos que englobem hidrogênio verde. Para os executivos, está descartada uma revolução no setor.
Cayo Moraes (EDP) compartilha sua visão com os participantes (imagem: João de Faria/GRI Club)