Absorções líquidas confirmam retomada dos escritórios em São Paulo e no Rio

Na região da Faria Lima, preços chegam a ultrapassar os R$ 250 por metro quadrado

25 de agosto de 2022Mercado Imobiliário
De acordo com a CBRE, os mercados de lajes corporativas nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro reportaram mais um trimestre de absorções líquidas positivas. Trata-se da quarta alta consecutiva na capital paulista e da terceira na capital fluminense, confirmando a retomada do setor após um período de aumento da vacância em meio à pandemia de covid-19.

“Em São Paulo, foram 12,9 mil metros quadrados de absorção líquida positiva, resultado de um aumento de 23% nas absorções brutas e queda de 20% nas devoluções frente ao mesmo período em 2021”, afirma o diretor de Locação e Pesquisa da CBRE, Felipe Giuliano. 

No Rio, a absorção líquida foi ainda maior, alcançando 38 mil metros quadrados, depois de ficar estável no primeiro trimestre do ano. “Os órgãos governamentais fizeram muitas transações, além dos setores de tecnologia, educação e saúde, que vêm em uma crescente nos últimos anos”, explica o executivo. 

A boa sequência de absorções nos dois principais mercados corporativos do país tem feito a vacância cair: em São Paulo, ela está na casa dos 21%, reduzindo para 19,1% quando considerados apenas ativos triple A, ao passo que no Rio está pouco abaixo dos 30%, na média, com variações entre as regiões. 

Ambas não têm registrado novo estoque relevante nos últimos meses: em São Paulo, a oferta foi 54% menor do que em 2021, no segundo trimestre; em parte, as regras do plano diretor vigente explicam essa realidade, com a entrega de prédios menores, segundo Giuliano, enquanto no Rio são as condições de mercado que têm segurado a construção de novos empreendimentos nos últimos anos.  

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Em relação aos preços de locação, houve um crescimento da ordem de 15% a 20%, nos últimos 12 meses, na região da Faria Lima, onde a vacância ao final do segundo trimestre era de 8%, segundo a CBRE. Com menor pujância, também há um cenário positivo na zona sul carioca, que fechou junho com uma vacância de 11,6%. O mesmo não se aplica para o Centro, dada a elevada disponibilidade.

“Essa subida tende a continuar na Faria Lima e na Juscelino Kubitschek. A Avenida Paulista já dá sinais de recuperação também, enquanto a Marginal Pinheiros - com vacância na casa de 29% - ainda oferece boas oportunidades de negociação para as empresas”, ratifica o diretor da CBRE. 

Empresas estão mais otimistas

Responsável pelo desenvolvimento e pela gestão imobiliária das torres do São Paulo Corporate Towers, na Vila Olímpia, a Participações Morro Vermelho está fechando o mês de agosto com uma ocupação de 99% no empreendimento, segundo o diretor de Real Estate, Francisco Lopes. “Temos apenas um andar vago, e já com propostas em negociação”, diz. 

Após alcançar 100% de ocupação nos 130 mil metros quadrados de ABL em 2019, o empreendimento viu sua vacância subir para cerca de 12% desde o início da pandemia, mas a volta aos escritórios em 2022 acelerou novas locações a partir do mês de maio. “No evento do GRI em Nova York, nós assinamos quatro contratos de locação”, revela Lopes. 

“A partir daí, com a maior escassez, aqueles que ainda não haviam fechado começaram a acelerar a tomada de decisão, e nos meses de junho e julho assinamos outros três novos contratos”, completa o executivo. Lopes não abre os valores dos preços por metro quadrado, mas diz que eles estão “no topo” do que é praticado pelo mercado. 

A GTIS Partners observa um “rali de preços” no Vista Faria Lima, empreendimento do qual é proprietária, segundo o diretor Paulo Millen: “[O preço] está escalando acima da inflação, o que demonstra falta de produto no mercado e se traduz em oportunidade para recuperar valor de metro quadrado”, afirma.

Com apenas meio andar vago no prédio, o executivo conta que os preços romperam os 250 reais por metro quadrado. “Ainda não temos uma projeção clara de onde ele vai parar, mas acredito que possa escalar para R$ 280 ou R$ 290”. 

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No Rio de Janeiro, onde é proprietária de cinco torres, a GTIS Partners sente uma recuperação mais lenta - com as empresas demorando mais a fechar negócios -, mas enxerga oportunidades no movimento conhecido como flight to quality: “Algumas empresas se adaptaram muito bem ao home office e precisam de menos áreas, e isso as permite ocupar ativos de maior qualidade, como os nossos”, explica Millen. 

Na capital fluminense, a vacância varia de acordo com a região: o Vista Guanabara, localizado no Porto Maravilha, está 90% ocupado, enquanto o Vista Mauá, no Centro, tem metade das lajes disponíveis. No segundo trimestre, este último recebeu um novo inquilino em uma área de dois mil metros quadrados. 

“Percebemos uma demanda bastante forte nos setores de saúde e educação; também temos empresas de seguros, advocacia e do setor público. É curioso, mas não temos nenhum inquilino do setor de óleo e gás”, conta o diretor da GTIS. 

Na avaliação do senior managing director da Tishman Speyer, Daniel Cherman, a movimentação das empresas cresceu no segundo trimestre, mas ainda não ocorreram muitos fechamentos porque a percepção sobre o alívio da inflação e o fim da alta dos juros ainda não existia claramente na época. 

A companhia registra 85% de ocupação no Edifício São Luís Gonzaga, na região da Paulista, em São Paulo, e 80% de ocupação no AQWA Corporate, situado no Porto Maravilha, no Rio. 

Neste último, em parte do quarto andar está situado o Studio, marca global de escritórios compartilhados da Tishman Speyer, atualmente 100% locado. “Estamos pensando em expandir porque existe essa demanda na região portuária, principalmente empresas de tecnologia, mas sempre em espaços menores”, afirma Cherman. 

O portfólio conta ainda com outros dois empreendimentos - Oscar Freire Offices e 2525 Indianápolis, ambos em São Paulo - recém-apresentados ao mercado, ainda vazios. 

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Expectativas para os próximos meses

Paulo Millen, da GTIS Partners, acredita que possa haver um esfriamento de absorções no segundo semestre em razão das eleições. “Mas independentemente do resultado, logo em seguida devemos ter muita coisa acontecendo; passada a incerteza, as empresas vão ter que tomar decisões e os negócios voltarão a acontecer”, afirma.

A companhia está desenvolvendo um projeto corporativo no Itaim e diz ter apetite para “operações prontas, edifícios que representam oportunidades”. Vale lembrar que há cerca de três meses a GTIS vendeu sua participação no Infinity Tower, também no Itaim, colocando em caixa 172 milhões de dólares. 

Para Cherman, a eleição não deve assustar o mercado, já que o mais importante é o arrefecimento da inflação e dos juros. “Está todo mundo olhando para o Banco Central e acredito que estamos na tendência correta com as decisões que estão sendo tomadas”.

O executivo aponta para a volta do trânsito em São Paulo como um bom indicador do aquecimento da atividade econômica. “Todo mundo voltou a viajar, a participar de eventos, enfim, entendo que as empresas já tomaram suas decisões e essa implementação vai começar a partir de agora”. 

Sem novas áreas para alugar, a Participações Morro Vermelho não se preocupa com eleições ou mesmo com as condições macroeconômicas, uma vez que os contratos são de longa duração e têm rígidas barreiras de saída. 

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Por Henrique Cisman