Brasil acumula bons exemplos de ESG em projetos logísticos
É preciso ter visão de longo prazo para promover ações sustentáveis
A lógica de qualquer negócio é gerar lucro para as partes envolvidas e, há algumas décadas, isso estava acima de qualquer outra preocupação, o que nos levou ao cenário alarmante da atualidade. Não por acaso, está em curso um forte movimento global para levar a sério a sustentabilidade no seu sentido mais amplo, desde reduzir os impactos ao meio ambiente até ocasionar mais retornos às pessoas e à sociedade em geral.
O especialista em sustentabilidade e mudanças climáticas da EBP Chile, Mauricio Villasenor, afirma que, quando bem planejadas, ações sustentáveis aumentam a rentabilidade dos projetos, e um bom exemplo é a comercialização dos créditos de carbono: “A emissão de carbono se tornou um bom indicador das práticas ESG. Se você for capaz de desenvolver projetos net zero, provavelmente vai se beneficiar”.
No Brasil, projetos altamente sustentáveis têm surgido aos montes no setor logístico. As aplicações do conceito ESG vão desde o aproveitamento das águas pluviais até a geração e utilização de energia proveniente de fontes limpas, como os ventos e o sol. A engenharia e a construção dos empreendimentos também trazem inovações aderentes aos preceitos de sustentabilidade.
“Desde o nosso primeiro empreendimento, em 2008, temos como requisito a utilização de torneiras automáticas, que contribuem com a eficiência no uso de água, e uma economia energética proveniente de iluminação e ventilação naturais, sensores de presença e aplicação de facefelt nas coberturas”, afirma Fábio Caldeira, gerente de Engenharia da Log Commercial Properties.
A companhia tem mais de 1 milhão de metros quadrados de condomínios logísticos desenvolvidos em 39 cidades, espalhados por 18 estados e o Distrito Federal, e pretende entregar mais 1,5 milhão até 2024. Dois novos projetos em andamento - situados em Itapeva/MG e Viana/ES - foram submetidos à certificação LEED, mundialmente reconhecida.
Segundo Marina de Magalhães, gestora de Relações com Investidores e ESG da Log CP, os dois empreendimentos fazem parte de um piloto para a empresa entender o processo de certificação, “mas muitos dos atributos requeridos pelo selo LEED já estão presentes em outras propriedades, ainda que não haja a chancela formal”.
A Retha Imóveis é outra empresa do setor logístico comprometida com a sustentabilidade na construção e operação dos condomínios. Segundo o diretor Marino Mário da Silva, há um custo mais elevado no projeto para torná-lo sustentável, porém tal diferença se torna irrelevante no longo prazo.
Condomínio logístico Cajamar Icon Realty I, desenvolvido pela Retha Imóveis. Foto: Divulgação/Retha Imóveis
A empresa opta pela construção pré-fabricada, que diminui de forma significativa a quantidade de resíduos gerados, e os projetos também dispensam o uso de tinta - que emite muito gás carbônico para ser produzida - porque o concreto é aparente. A energia que abastece os condomínios é gerada por painéis solares e ainda há um sistema próprio de tratamento de esgoto.
Recuperação de áreas
O head de avaliação ambiental da EBP Brasil, Victor Vanin, destaca a conversão de ativos brownfield: “Desbloquear áreas que têm restrições - contaminação do solo, por exemplo - é algo muito ESG, e a logística é um segmento perfeito para isso. Então você cria empregos, arrecada impostos e traz de volta à vida bairros inteiros. Para o investidor, é uma oportunidade muito boa de comprar ativos por bons preços e ainda lucrar com o spread no valor do imóvel”.
Mas é importante ter visão de longo prazo: “Em muitos casos, precisamos lutar contra o imediatismo do investidor. Não devemos apenas buscar uma boa solução com menor custo de investimento inicial, mas sim maximizar o retorno financeiro e social no longo prazo, o que é difícil para alguns investidores entenderem. O retorno não vai chegar em três anos”, ressalta Villasenor.
Segundo o CEO da EBP Brasil, Rubens Spina, o resgate de ativos problemáticos é um bom indicador de governança (a letra G da sigla). “Resgatar a terra e trazê-la de volta à sociedade para um uso nobre é sinal de compliance, ou seja, é seguir à risca a legislação e as regras locais”.
A letra S da sigla
A capilaridade da Log Commercial Properties Brasil afora democratizou o acesso rápido e de qualidade a uma infinidade de produtos. Segundo uma estimativa interna, a empresa impacta 60% da população em um raio de até 100 km dos condomínios logísticos que desenvolve e aluga.
“Avançar para regiões fora do eixo Rio-São Paulo, normalmente em áreas mais humildes, também faz parte da agenda ESG. Inclusive, temos programas sociais de saúde e capacitação que abarcam toda a comunidade vizinha dos empreendimentos”, revela Marina.
No ano passado, a companhia ofereceu mais de 3 mil horas de cursos em uma de suas unidades, destinados para os colaboradores das empresas clientes; em outro condomínio, atendeu mais de 600 pessoas da comunidade em consultas oftalmológicas gratuitas, distribuindo óculos e lentes nos casos necessários. Ambas as iniciativas devem ser ampliadas em 2022, segundo a gestora de RI e ESG da Log CP.
Log Social oferece cursos de capacitação para colaboradores de inquilinos. Foto: Divulgação/Log Commercial Properties
A Retha Imóveis tem parceria com a Yougreen Cooperativa para realização de triagem dos resíduos produzidos rumo à reciclagem, iniciativa que gera emprego e renda para os cooperados. A empresa também criou um sistema de compostagem para aproveitar as sobras de alimentos nos restaurantes dos condomínios - o adubo produzido é utilizado nos jardins.
De acordo com Vanin, o ESG tem se tornado algo mandatório na economia e os investidores cada vez mais exigem planos sustentáveis para fazer aportes. “Muitas companhias nos procuram na tentativa de mensurar a performance em termos ESG, ou pelo menos identificar onde a empresa está situada em relação ao tema. Nós até desenvolvemos uma plataforma para ajudá-las”.
“A demanda vem numa crescente e o que muda é que, antes, as companhias nos procuravam para ações específicas, por exemplo, na engenharia ou na operação, mas agora o suporte da EBP é solicitado desde as primeiras etapas do empreendimento”, encerra Villasenor.
Por Henrique Cisman