Construção offsite escala no mercado imobiliário brasileiro

Incorporadoras mencionam redução de desperdícios, precisão e velocidade da obra como vantagens do modelo

4 de abril de 2023Mercado Imobiliário
Pelo menos uma vez na vida você deve ter assistido a algum filme ou série dos Estados Unidos que mostra a construção de casas, armazéns e igrejas utilizando madeira na estrutura. Até pouco tempo, isso era bem incomum no Brasil, mas essa realidade começou a mudar. 

Hoje, os projetos imobiliários construídos em ambiente de fábrica (com madeira ou outro material) - mais conhecidos pelo termo offsite - deixaram de ser um teste para escalar no real estate nacional. E em todos os segmentos. A reportagem do GRI Club conversou com empresas que atuam em diferentes nichos para entender as vantagens do modelo e sua relação com a sustentabilidade.

Mais qualidade, menos tempo

Na lista de ganhos oferecidos pela construção offsite, qualidade e tempo são unanimidade. “Ela cura as principais dores da construção civil. Tudo que tem mindset industrial está relacionado com a previsibilidade em termos de prazo, uso de materiais e qualidade do produto final”, afirma Paulo Salvador, CEO da Modularis Offsite Building

A empresa já entregou projetos que somam mais de 80 mil metros quadrados de área locável no varejo, e recentemente também entrou no mercado residencial, consoante o investimento recebido pelo fundo de corporate venture capital da siderúrgica ArcelorMittal. 

A Modularis está investindo em dois projetos-piloto para mostrar ao mercado as vantagens e a escalabilidade da construção offsite no setor, tanto em empreendimentos verticais (prédios) como em loteamentos. 

Um projeto está situado em Moema, terá 12 andares - dos quais nove pavimentos em construção volumétrica realizada na fábrica de Itupeva - e previsão de entrega em nove meses. “Estamos conversando com fundos imobiliários de renda em busca do funding para erguer o prédio; a obra deve começar no final de 2023”, diz Salvador. 

A construção offsite e outras tecnologias serão debatidas no GRI Industrial & Logística 2023, no dia 24 de maio, em São Paulo. Participe! 



O outro case é uma residência de alto padrão com 480 metros quadrados de área, em Campinas, que será construída e entregue em 6 meses. “Temos capacidade de escalar todo o Brasil, mas o mercado mais promissor é o Estado de São Paulo”. 

Segundo Nicolaos Theodorakis, CEO da Noah, a construção offsite reduz os desperdícios de materiais, por se tratar de uma obra com alta acuracidade. “Ainda no campo da sustentabilidade, os empreendimentos economizam carbono que podem se reverter em crédito para as empresas”, ressalta o executivo. 

Para os inquilinos, a construção em madeira apresenta ganhos que vão do aspecto decorativo e biofílico até a maior proteção às variações térmicas e consequente redução do custo com energia utilizada, por exemplo, em ar-condicionado. 

“Por essa conjunção de fatores, assim como observamos fora do Brasil, esperamos que os prédios construídos em madeira engenheirada tenham uma demanda maior, e isso deve se refletir nos valores de locação”, completa o CEO da Noah. 

A empresa tem quatro projetos em desenvolvimento - nos segmentos residencial e corporativo -, mas três deles ainda são sigilosos. “No momento, podemos divulgar o Arvoredo, um residencial de Alto Padrão na Vila Madalena com unidades a partir de 390 metros quadrados, em fase de lançamento comercial”. 

Testado e aprovado

Um dos segmentos em que a construção offsite despontou primeiro é o de ativos industriais e logísticos. A Retha Imóveis tem pelo menos três empreendimentos desenvolvidos com essa metodologia, todos com 100% de ocupação atualmente. São eles:
  • Icon Realty Cajamar, localizado na Rodovia Anhanguera, km 34, em Cajamar/SP, com área construída de 77.814,00 metros quadrados.
  • Logical Center Cotia, localizado na Rodovia Raposo Tavares, em Cotia/SP, com área construída de 13.179,66 metros quadrados.
  • Logical Center Itapevi, localizado na Rodovia Castello Branco, em Itapevi/SP, com área construída de 11.982,59 metros quadrados.

Logical Center Itapevi, desenvolvido pela Retha Imóveis utilizando o método de construção offsite

“Nas construções pré-fabricadas em concreto é possível implementar grandes vãos utilizando o método de protensão das estruturas, ou seja, são produzidas tensões prévias nos elementos. Isso significa que é possível armazenar mais produtos e tornar mais eficiente a movimentação logística interna”, avalia Marino Mário da Silva, diretor da Retha. 

No campo dos desafios para que a construção offsite ocupe ainda mais espaço no mercado imobiliário, Paulo Salvador destaca a adaptação ao novo: “É preciso ter maior familiaridade com a tecnologia para contratá-la e usá-la. Na Escandinávia, 70% das construções são feitas com essa tecnologia modular. Aqui, o maior desafio é quebrar a barreira da cultura, tanto do cliente final quanto da incorporadora”. 

Para quem já o utiliza, é consenso que a popularização dessa tecnologia é irreversível, com ganhos em todas as frentes.

Written by Henrique Cisman