Demanda por loteamentos tende a se acomodar após boom na pandemia
Segundo executivos do setor, vendas podem cair em relação ao ano passado
Sabe aquela história de êxodo urbano, vida no campo e desapego dos grandes centros? Ela ainda faz sentido, mas em uma escala menor do que nos últimos 24 meses. Um bom termômetro da situação é a leitura de executivos que atuam com loteamentos e comunidades planejadas, consultados em uma sondagem do GRI Club realizada entre os dias 3 e 10 de fevereiro.
Pouco mais da metade dos respondentes (54%) acredita que deve ocorrer uma queda nas vendas de unidades em relação ao ano passado - que, diga-se, foi bastante aquecido no segmento, assim como em 2020. Quase 30% enxergam níveis parecidos nesta mesma comparação, e apenas 15% avaliam que será outro ano de recordes, com ainda mais vendas.
Isso não quer dizer que os lançamentos vão sumir do mercado: 44% afirmam que vão colocar mais projetos este ano do que em 2021, enquanto 27% pretendem tirar o pé do acelerador; o restante crê em volume semelhante ao dos últimos 12 meses.
A participação do mercado de capitais no financiamento dos projetos também deve ser equivalente ao dos últimos dois anos para quase metade dos executivos - o que não é uma visão negativa, visto que no período também houve marcas inéditas de captação e operações estruturadas.
Na avaliação do mercado, os preços das unidades tendem a subir acompanhando a inflação (54%) ou mesmo acima dela (16%), o que significará uma valorização real. Ninguém no setor acredita em depreciação nominal - cerca de um terço aponta manutenção dos valores em relação a 2021, o que significará perda real.
Ao contrário do que ocorre no mercado de habitação vertical, no qual boa parte dos investimentos não deve ir para produtos mais baratos, nos loteamentos e bairros planejados há um grande equilíbrio entre os perfis preferidos: segmento econômico, renda média e renda média-alta empataram nas escolhas, com 27% cada.
O estado de São Paulo mais uma lidera nas preferências para novos projetos, com 64,8% dos votos, seguido por Minas Gerais (19%), Paraná (16%), Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul (8%). Também foram mencionados Santa Catarina (5%), Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (1%).
No campo dos obstáculos, o aumento da taxa de juros lidera (51%), seguido pelas eleições e incertezas políticas (40%), desabastecimento e alto custo da construção (35%) e lentidão dos órgãos públicos na aprovação de projetos (35%).
O desemprego e a perda de renda da população também aparecem com boa quantidade de votos (24%), reforçando a preocupação dos empresários com a economia. Para 78%, o desempenho do Brasil em 2022 deve ser mais ou menos como foi no ano passado; 19% estão pessimistas e apenas 3%, otimistas.
Por Henrique Cisman