Economista-chefe do BTG aponta atuais desafios na esfera econômica
Dar continuidade à agenda de reformas deve ser uma prioridade do governo
Na última quarta-feira (14), o GRI organizou uma reunião online de membros do clube com o economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida. O líder de Investimentos Imobiliários da empresa, Michel Wurman, moderou o encontro, que teve como objetivo debater os atuais desafios na esfera econômica e os consequentes impactos no mercado imobiliário.
O primeiro apontamento de Almeida foi que o começo de 2021 reunião inúmeras incertezas para o Brasil. Além da segunda onda de Covid-19, que registrou piores números do que a primeira, o país viveu um período com diversos ruídos políticos.
"Teve a troca do presidente da Petrobras, a ameaça de intervenção na política de preços da empresa, as votações da PEC Emergencial e do Orçamento, e o pico do dólar, que atingiu R$ 5,80 em março. Porém, a partir de abril tivemos uma sequência de acontecimentos positivos, começando pela notícia de crescimento do PIB no primeiro trimeste", analisou.
Na sequência, o executivo citou as aprovações do Marco Regulatório do Gás e do Marco Regulatório do Saneamento Básico, que aumentaram a capacidade de investimento de estados com problemas financeiros, como o Rio de Janeiro. Ainda destacou a aprovação da independência do Banco Central (BC), que procura minimizar a interferência política na autoridade monetária.
"É muito relevante, pois não sabemos quem será o presidente da República em 2023, mas o presidente do BC será o Roberto Campos Neto", disse Almeida, que enxerga o panorama atual como “muito melhor do que dois meses atrás”. Obviamente, o avanço da vacinação no país também compõe a análise.
Além da independência do Banco Central, Almeida elogiou avanços no campo fiscal alcançados nos últimos cinco anos, como a aprovação do teto de gastos e a reforma da Previdência, ambas consideradas vitais para o crescimento da economia. Segundo o especialista, chama atenção o fato de que a primeira teve êxito mesmo em um governo de baixa aprovação, recém-saído de um impeachment.
Olhando para o setor imobiliário, o executivo garante que a partir de 2019, com os consecutivos cortes na Selic, o mercado começou a se aquecer. Após uma paralisação dos negócios no início da pandemia, o ramo ganhou ainda mais tração, sofrendo pouco impacto da segunda onda de Covid-19.
"Neste momento, o grande debate dos economistas é se a correção dos juros vai chegar a 6,5%, 7% ou até 7,5%. Nestes níveis, o cenário segue bastante competitivo para o mercado imobiliário, que conviveu recentemente com um patamar de Selic entre 13% e 14%, além de inúmeros distratos", recordou Almeida.
A macroeconomia também conta com uma perspectiva positiva, segundo o executivo, que enxerga uma diminuição no risco fiscal do Brasil nos últimos meses. Almeida acredita que o dólar deve ficar abaixo dos R$ 5 e o crescimento do PIB pode chegar a 6% em 2021.
Além disso, o economista valoriza o fato de o fluxo cambial financeiro ter ficado positivo em US$ 4,4 bilhões em junho, o melhor para o mês desde 2007. De qualquer modo, entende que o país "precisa ser mais previsível para atrair um número ainda maior de investidores estrangeiros".
Por outro lado, o economista-chefe do BTG Pactual alerta para a ameaça de inflação mundial, incluindo o Brasil, e indica que o BC realmente deve aumentar os juros como forma de controle inflacionário. Outro risco é a escassez de energia em função do baixo nível de chuvas neste ano, que limita a operação das hidrelétricas. "Neste ano e no próximo, teremos que ativar as termelétricas", apontou.
Para não reverter o cenário otimista, Almeida entende que o governo federal deve dar continuidade à agenda de reformas e transformar a recuperação cíclica em uma recuperação estrutural. Uma das reformas essenciais é a tributária, que envolve um dos principais gargalos do país, de acordo com o especialista.
"A carga tributária do Brasil está em torno de 33% do PIB, semelhante ao de países ricos como a Alemanha, na qual chega a 40%. O problema é que o trabalhador alemão produz mais riqueza que o trabalhador brasileiro. Não somos um país rico e deveríamos nos adequar à média da América Latina, de 23%", avaliou.
Vale lembrar que a recente proposta de reforma tributária assustou o setor imobiliário, principalmente pela intenção de eliminar a isenção de impostos sobre os dividendos recebidos de fundos de investimentos imobiliários (FIIs). Entretanto, o texto que poderia reduzir a atratividade destes ativos e frear o crescimento do setor não deve avançar.
Outra reforma importante para o país, na visão de Mansueto Almeida, é a administrativa. "O desafio do setor público é se tornar mais próximo da estrutura do setor privado", opinou o economista, que confia no desenvolvimento do país nos próximos anos.
"A gente tem tudo para dar certo, mas temos que continuar com as reformas. Se fizermos isso, não temos limite, vide o que ocorreu com Coreia do Sul e Estados Unidos", concluiu.
Por Daniel Caravetti