Eleições 2022: situação da economia será decisiva para resultado
Questões econômicas são prioritárias para eleitores; chances de uma terceira via são baixas
O painel de abertura do segundo dia do Brazil GRI 2021 colocou em pauta as eleições presidenciais do ano que vem, que desde abril estão no foco dos noticiários após o Supremo Tribunal Federal (STF) anular as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no âmbito da Operação Lava-Jato, trazendo-o de volta ao páreo.
A apresentação do painel foi conduzida pelo diretor da Eurasia Group no Brasil, Silvio Cascione, que destacou a surpresa até do próprio Partido dos Trabalhadores com a anulação da condenação de Lula e a consequente reaquisição dos direitos políticos. “Até então, Lula era carta fora do baralho mesmo para as pessoas mais próximas”, garantiu o especialista.
A leitura da Eurasia é que, por ora, o ex-presidente petista aparece como favorito para vencer a disputa em 2022, embora o atual presidente Jair Bolsonaro siga competitivo para chegar ao segundo turno. Neste contexto, são pequenas as chances de um nome da terceira via avançar, pelo menos até o momento.
Segundo Cascione, alguns fatores podem ser relevantes para a ascensão de um nome alternativo, como o possível agravamento da crise hídrica e o descontrole inflacionário no decorrer do próximo ano, o que é improvável. Hoje, a companhia - que é líder mundial em consultoria política - avalia em 20% a possibilidade de um nome da terceira via avançar para o segundo turno.
Riscos superestimados
De acordo com a Eurasia, os riscos de quebra institucional e descontrole da inflação no curto prazo - frequentemente aventados - estão sendo superestimados, isto é, as tensões não devem passar de retórica e a tendência é que os preços se acomodem já nos próximos meses.
Se isso ocorrer, voltam a crescer as chances de que Bolsonaro seja reeleito, já que a principal preocupação dos eleitores na atualidade é a recuperação econômica, que se traduz tanto na retomada do emprego e da renda quanto na desaceleração dos preços, como da energia elétrica e dos combustíveis.
Uma pesquisa apresentada no painel mostra que as questões econômicas são prioritárias para 44% dos respondentes, frente a 24% que indicaram a pandemia e os aspectos sanitários. A inversão das posições ocorreu em agosto, quando a popularidade do atual presidente começou a se deteriorar em razão dos expressivos aumentos de preços.
Outrora muito relevante no debate político, o combate à corrupção hoje está empatado com a solução da pobreza/desigualdade no ranking de prioridades da população, e não deve, portanto, ser tão relevante para o resultado das eleições.
Disputa será acirrada
Embora Bolsonaro tenha perdido apoiadores nos últimos três meses, o nível de aprovação atual - na casa dos 30% - é considerado importante para colocá-lo no segundo turno com chances de vitória. “É um patamar invejado pela maioria dos presidentes de países vizinhos”, pontuou Cascione.
Executivos fizeram perguntas sobre cenários possíveis nas próximas eleições. Foto: Flávio R. Guarnieri/GRI Club
Com sua base leal mantida, assim como conseguiram Lula e PT em meio a todos os escândalos de corrupção descobertos pela Lava-Jato, Bolsonaro precisa angariar novamente o apoio perdido recentemente para que a eleição seja considerada competitiva. Hoje, o cenário sugere mudança. Se a aprovação chegar a 50%, há grandes chances de que seja reeleito, segundo a Eurasia.
O mais provável é que as condições econômicas melhorem, mas a aprovação do atual presidente deve ficar em níveis que sugerem uma disputa acirrada em outubro do ano que vem. “Se Lula vencer na urna, será o próximo presidente. Não há qualquer coisa diferente disso”, afirmou Cascione sobre o possível risco de uma não aceitação de eventual derrota de Bolsonaro com o voto eletrônico.
O que muda com Lula?
Caso seja vencedor, Lula provavelmente adote tom moderado em relação a reformas políticas, mas já acena que afrouxará as políticas de austeridade fiscal, com tentativas de furar o teto de gastos. Segundo Cascione, será preciso construir maioria no Congresso para negociar parâmetros fiscais, o que é visto como tarefa difícil, além da pressão do mercado.
Já as reformas realizadas recentemente, como a autonomia do Banco Central e a privatização da Eletrobrás, vieram para ficar, de acordo com a Eurasia. A polarização política continuará sendo realidade, principalmente se houver frustrações já no curto prazo com o desempenho econômico.Por Henrique Cisman