Exclusivo: lançamentos e vendas residenciais caem no primeiro trimestre
Apesar da queda nas unidades, VGV sobe, indicando maior participação do mercado de médio e alto padrão no setor
Por Henrique Cisman
O GRI Club obteve com exclusividade estimativas sobre o desempenho do mercado imobiliário residencial no primeiro trimestre, considerando lançamentos e vendas de imóveis novos em todo o Brasil. O levantamento é realizado pela Brain Inteligência Estratégica.
Em relação ao primeiro trimestre de 2022, o número de unidades lançadas caiu 26,7%, para um total de 50.982. Já frente ao trimestre anterior, o recuo foi ainda maior, de 41,6%. Geralmente, os últimos três meses de cada ano costumam ser mais fortes em termos de lançamentos e vendas, mas o dado chama a atenção.
Segundo o sócio-diretor da Brain, Fábio Tadeu Araújo, a principal explicação para a redução no apetite das incorporadoras em novos lançamentos é o alto patamar da taxa básica de juros, que está em 13,75% desde junho do ano passado. “Os números do primeiro trimestre de 2023 refletem aquilo que foi planejado a partir do segundo semestre de 2022, e a taxa de juros neste nível inviabiliza financeiramente alguns projetos, que foram postergados”.
Lançamentos |
1T22 |
2T22 |
3T22 |
4T22 |
1T23 |
% tri anterior |
% ano anterior |
Unidades |
69.512 |
75.404 |
77.233 |
87.315 |
50.982 |
-41,6 |
-26,7 |
VGV (milhões) |
33.760 |
39.636 |
42.285 |
42.468 |
41.616 |
-2,0 |
23,3 |
Apesar da forte retração em número de unidades, o valor geral de vendas (VGV) lançado cresceu 23,3% frente ao mesmo período do ano passado e recuou apenas 2% na comparação com o último trimestre de 2022, o que indica uma participação maior de projetos de médio e alto padrão, com ticket médio mais elevado.
“Existe um reposicionamento das empresas, que cada vez mais estão mirando projetos de padrões mais elevados, pois são segmentos que dependem menos da taxa de juros na ponta, no impacto que tem sobre o consumidor, além de ser um segmento menos sensível a crises e que permite um repasse maior dos custos no preço de venda”, explica Araújo.
Há uma expectativa de que a reformulação no programa Minha Casa, Minha Vida consiga resgatar o protagonismo da habitação econômica nos indicadores imobiliários residenciais. “Houve uma forte retomada no primeiro trimestre, que deve se refletir mais à frente, fortalecendo os próximos resultados”, diz o sócio da Brain.
Vendas seguem ritmo firme
O desempenho das vendas, embora pior em número de unidades, mostra que o apetite dos clientes continua alto - vale sempre lembrar que os anos de 2021 e 2022 registraram recordes no mercado residencial. Em números absolutos, as vendas caíram 11,9% frente ao trimestre anterior e 15,5% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, totalizando 67.879 unidades.
O recorte do VGV comercializado novamente prova que o segmento de médio e alto padrão ganhou market share no período: o valor geral de vendas subiu 9,2% quando comparado ao 4T22 e 6,8% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado.
Vendas |
1T22 |
2T22 |
3T22 |
4T22 |
1T23 |
% tri anterior |
% ano anterior |
Unidades |
80.349 |
76.436 |
77.267 |
77.009 |
67.879 |
-11,9 |
-15,9 |
VGV (milhões) |
38.500 |
36.477 |
40.165 |
37.646 |
41.109 |
9,2 |
6,8 |
Segundo Araújo, a menor retração das vendas frente aos lançamentos é algo favorável. “Seria ruim se fosse o inverso, pois haveria excesso de oferta. Quando olhamos para a média do Brasil, percebemos que foram vendidas unidades que já estavam no mercado. A demanda continua firme, indicando que o ano será bem positivo”, afirma.
A maior quantidade de unidades vendidas do que de unidades lançadas no primeiro trimestre resulta em uma queda na oferta disponível. Se não houvesse mais qualquer lançamento, o estoque atual seria totalmente absorvido em 10,8 meses, frente a 11,5 meses no trimestre anterior.
Naturalmente, essa realidade é bastante positiva para as incorporadoras, conforme explica o sócio da Brain: “Quando tem escassez de oferta, significa que há espaço para novos lançamentos e para a recuperação de preços, o que possibilita melhora da margem nos empreendimentos. A tendência é que essa relação continue abaixo de 12 meses ao longo do ano”.
Alto padrão rompe barreiras
Membros do GRI Club se reuniram para debater o panorama do mercado de alto padrão em São Paulo. Um dos focos do encontro foi o novo paradigma de preços alcançado na capital paulista, com projetos recém-lançados cujos valores de tabela chegam aos R$ 60 mil por metro quadrado, algo inédito no mercado brasileiro.
No ano passado, houve pelo menos dez lançamentos de prédios residenciais com preços acima dos R$ 40 mil por metro quadrado. Os executivos entendem que “o limite do preço é o termômetro da venda”, ou seja, se há comprador interessado, há possibilidade de pedir um valor maior.
Embora a localização ainda seja um driver importante, a oferta de serviços exclusivos e de qualidade torna-se essencial para satisfazer o público de alta renda. “Os hotéis de luxo em São Paulo, aos finais de semana, em sua maioria são ocupados por paulistanos em busca de experiências e serviços”, afirma um membro do GRI Club presente na reunião.
Uma executiva com experiência internacional aponta que o luxo, hoje, deve focar em construir “do prédio para fora, muito mais do que do prédio para dentro, oferecendo gastronomia, arte e consumo voltado para o público que se deseja alcançar”. Neste sentido, projetos em localizações menos premium podem ser estruturados para agregar valor aos clientes.
A leitura do mercado é que ainda há espaço para ganhar preço nos projetos de alto padrão e luxo. “O Brasil tem um dos metros quadrados mais baratos do mundo”, afirma um executivo. Dados apresentados na reunião indicam que, na média, os valores de imóveis acima dos R$ 3 milhões cresceram 10% em relação a um ano atrás. “O ticket mais alto está ganhando mais preço”.
O mercado de alto padrão será um dos focos do GRI Residencial Brasil 2023. Saiba mais e solicite sua participação.