Gestores apontam que momento é oportuno para investimento em FII de escritórios
Preços estão descontados em razão das incertezas que rondam o segmento na pandemia
O painel de encerramento do GRI Escritórios 2021 colocou em debate o panorama dos fundos de investimento imobiliário (FII) no contexto dos reajustes regulares da taxa básica de juros (Selic) e da recuperação do Ifix. Moderador da discussão, Augusto Martins, head de Real Estate do CSHG, classificou de “emblemática” a escolha do tema fundos imobiliários para encerrar o evento, indicando a força adquirida pelo segmento nos últimos anos.
Também compuseram o palco os convidados Carlos Martins, sócio da Kinea Investimentos, Silvia Benvenuti, CIO do BV Asset, Erica Souza, gestora de fundos imobiliários da Vinci Partners, e André Freitas, CEO da Hedge Investiments, compartilhando as opiniões acerca do mercado de FII corporativo.
Para Benvenuti, os preços de aluguel nas lajes corporativas estão super deprimidos, o que configura uma ótima oportunidade de entrada nos fundos de escritórios, uma vez que boa parte está negociando abaixo do valor patrimonial. Com a volta das companhias, a renda deve subir e os contratos protegem contra a inflação.
Freitas acredita que o investidor tem a leitura de que os preços estão baratos. Basta considerar que boa parte dos novos entrantes está no prejuízo - cerca de 800 mil investidores que entraram, em parte, motivados pela Selic a 2% durante a pandemia. Apesar do “stop” realizado por uma parcela, o mercado de FII já captou R$ 30 bilhões até o início de setembro.
O CEO da Hedge acredita que estamos próximos de entrar em um ciclo mais positivo, com recuo da inflação nos principais produtos, com exceção - principalmente - da energia. O executivo não acredita em uma subida ininterrupta dos juros, pois isso teria impacto no crescimento previsto para 2022 e traria consequências políticas indesejadas.
Segundo Erica Souza, o mercado já precificou a subida dos juros, cujo impacto sobre o mercado de fundos imobiliários não deve ser analisado separadamente. A boa notícia é que os fundamentos do mercado imobiliário brasileiros são bons, na opinião da especialista.
Martins assinala que o “prêmio” dos escritórios é maior devido à percepção - ainda - de que serão mais afetados pelas consequências da pandemia, mesmo que a realidade seja de retorno gradual das empresas às lajes corporativas. O sócio da Kinea entende que as notícias contaminam o imaginário do investidor, sendo necessárias boas novidades para que haja uma redução do prêmio exigido.
O executivo crê que o gatilho para redução da vacância dos escritórios é o avanço da vacinação, o que tem ocorrido satisfatoriamente. “Não tem muito espaço disponível se as grandes empresas se movimentarem. O investidor institucional vai entrar no longo prazo”, disse Martins.
Para Freitas, o grande diferencial é a questão política, isto é, as ações e os fundos imobiliários no Brasil só não cresceram no mesmo ritmo que em outras economias emergentes devido ao risco político, com uma sequência de conflitos ao longo dos últimos meses.
Diferentemente de São Paulo, o mercado no Rio de Janeiro tem se recuperado de forma desproporcional, com piores desempenhos no Centro, onde a vacância é maior e crescente desde o escândalo de corrupção que envolveu a Petrobras. Ainda se observa o movimento de fly to price, segundo Martins, com uma pequena melhora em Botafogo e mais significativa na zona sul.
Erica Souza concorda que a zona sul é um mercado à parte na capital fluminense, e ressalta a importância de novas emissões em busca de oportunidades para aumentar o dividend yield dos fundos, ainda que isso possa significar uma diluição do valor patrimonial, o que não tem relevância vital no cenário descrito.
A renegociação dos contratos do BBPO11, um dos principais fundos imobiliários corporativos do Brasil, também foi assunto. Segundo Benvenuti, foram renovados 317 mil metros quadrados com o Banco do Brasil após a redução dos preços cobrados em razão da diferença de cenário em relação ao previsto no contrato anterior. Ainda assim, os valores estão “acima da média atual do mercado”, segundo a CIO do BV Asset, e não houve influência da pandemia.
O painel foi encerrado com um ping pong elaborado e conduzido pelo moderador Augusto Martins, fazendo a mesma pergunta para os quatros convidados, de modo a captar visões semelhantes ou diferentes em relação ao mercado de fundos imobiliários corporativos atualmente.
Por Henrique Cisman