GRI Escritórios: nova dinâmica de trabalho exige mais investimento em amenidades
Proprietários e inquilinos intensificam melhorias para atrair colaboradores de volta
Se no final de 2019 alguém dissesse que trabalhar de casa seria o novo normal dali a poucos meses, a reação dos ouvintes seria, muito provavelmente, sarcástica. Não havia como prever a chegada de uma pandemia, mas o fato é que, após um ano e meio de reclusão, só agora os proprietários e inquilinos de lajes corporativas puderam se reunir presencialmente para debater o futuro dos escritórios.
No início do mês, o GRI promoveu o encontro anual do segmento de lajes corporativas, colocando em pauta os principais temas que norteiam este mercado. O painel de abertura abordou justamente a dinâmica dos escritórios em 2022: com tudo o que aconteceu desde março do ano passado, como os espaços de trabalho devem ser vistos a partir de agora?
O debate foi moderado pelo vice-presidente da CBRE, Adriano Sartori, e contou com as contribuições do CEO da BR Properties, Martin Jaco, do CEO da Regus Brasil, Tiago Alves, do diretor de Patrimônio da VIVO, Caio Guimarães, do diretor de Facilities da Via, Marcelo Leme, e do Real Estate Management & Facilities da Allianz Seguros, Enivan Nogueira.
Segundo pesquisa da CBRE realizada nos Estados Unidos e revelada por Sartori no evento, 85% das companhias querem implementar um modelo híbrido de trabalho. As pequenas já retomaram as atividades presenciais, enquanto a maior parte das grandes empresas deve concluir o retorno no primeiro semestre de 2022.
Ressaltou-se a importância do rápido avanço da vacinação no Brasil para que essa retomada ocorra. Apesar de boa parte dos colaboradores ainda estar em casa, a ocupação das lajes corporativas - isto é, a manutenção dos contratos ou a realização de novos negócios - se manteve alta durante a pandemia. “Regiões como a Faria Lima têm 90% dos prédios ocupados”, disse Sartori.
Tendência acelerada
A demanda dos colaboradores por mais serviços, urbanismo e acessibilidade integrados aos escritórios já era uma tendência antes da pandemia, que apenas foi acelerada pelo contexto, destacou o CEO da BR Properties, Martin Jaco. O movimento de adaptação a esta nova realidade nos edifícios da companhia foi iniciado em 2016, segundo o executivo.
“A ocupação em nossos prédios, hoje, está maior do que no início da pandemia, mas é diferente do movimento fly to quality de 2018, quando tinha muita oferta. Existe um novo paradigma de qualidade de ocupação e as áreas comuns foram muito valorizadas”.
Taxa de vacância nos escritórios da BR Properties está menor do que antes da pandemia, segundo o CEO, Martin Jaco (à direita). Foto: Flávio R. Guarnieri/GRI Club
Mas não foram apenas os proprietários que precisaram se adequar. Preocupados com a retenção de talentos, os inquilinos tiveram que se mexer para estimular a volta dos colaboradores aos escritórios, mesmo em um modelo mais flexível.
Qual é a estratégia das grandes companhias?
Com mais de dois mil ativos espalhados pelo Brasil, a VIVO vendeu uma série de unidades próprias, mudou o layout dos escritórios e devolveu espaços que não faziam mais sentido. Como havia implementado uma política de mobilidade pouco antes da eclosão da pandemia, a empresa conseguiu migrar 100% da operação - incluindo os call centers - para o home office, segundo Guimarães.
No início do mês, a VIVO iniciou o processo de retorno presencial dos colaboradores que já estão totalmente imunizados. “Haverá um modelo híbrido de trabalho. O contato presencial é fundamental para as companhias, e a VIVO está levando amenidades aos escritórios para estimular esse retorno e melhorar a experiência dos colaboradores”.
A empresa avalia que, eventualmente, no futuro, pode investir em hubs descentralizados nas cidades. De acordo com o diretor de Patrimônio, a VIVO não tem mais devoluções a fazer e pretende manter a proposta de mobilidade que já havia implementado antes da covid-19. “Atualmente, estamos operando com 25% da capacidade dos escritórios”.
A Via optou por expandir suas unidades durante a pandemia. Antes, toda a operação de back office ficava em um escritório situado em São Caetano. Agora, a empresa também ocupa prédios em Pinheiros e Moema, em São Paulo, segundo o diretor de Facilities, Marcelo Leme.
“Ir para o trabalho remoto foi complexo, mas funcionou. Apesar da boa adaptação ao modelo híbrido, nosso DNA é presencial. As obras em andamento e a mudança de conceitos atraem o colaborador: não tem mais estação fixa, a divisão do escritório é em squads e criamos espaços de lazer interativos”.
A ideia da Via é manter uma relação de 60/40 neste início de retomada às atividades presenciais. São 47 mil colaboradores, sendo 5 mil alocados em escritórios. “Pelo menos 3 mil devem retornar até o final do ano. O alto custo da energia pode estimular esse retorno”, afirmou Leme.
Menos decidida, a Allianz Seguros busca reduzir custos, em linha com o guia de trabalho obtido na aquisição das operações de seguros automotivos da SulAmérica. A companhia ocupa atualmente 15 mil metros quadrados no Edifício WTorre Nações Unidas III, em São Paulo, e 4,5 mil metros quadrados no Ventura Corporate Towers, no Rio de Janeiro, além dos empreendimentos próprios.
“Em outubro, vamos trazer de volta aos escritórios 10% do time. O feedback dos colaboradores vai definir o planejamento futuro. Vamos utilizar a tecnologia para incentivar a retomada”, afirmou o Real Estate Management & Facilities, Enivan Nogueira.
E os coworkings?
Segundo o CEO da Regus Brasil, Tiago Alves, o perfil da ocupação dos escritórios compartilhados mudou muito durante a pandemia. O segmento foi o primeiro a sentir os impactos, dado que os contratos são de curto prazo, mas também tem surfado a retomada primeiro. Para Alves, 30% dos espaços de trabalho serão flexíveis até 2025.
“A Regus começou a procurar escritórios mais afastados para atender a demanda em zonas residenciais. As regiões centrais ainda sofrem. Grandes empresas estão dividindo coworkings, o que é inédito. A demanda em 2021 está 30% maior do que em 2020”, disse.
Cidades que até então estavam fora do radar da empresa, como Santos e Jundiaí, agora já possuem uma demanda interessante para coworkings. “O mercado como um todo deve voltar forte mediante a aplicação da segunda dose da vacina em toda a população”, prevê Alves.
Em paralelo, a companhia criou, no início do ano, o modelo de franquia com proprietários. A BR Properties já tem seis operações em andamento, em escritórios menores.
“É importante destacar que o home office perdeu, no final de agosto, o embasamento legal, com o fim da validade da medida provisória 1.046. É preciso de regulamentação para oferecer segurança jurídica”, encerrou Alves.
Por Henrique Cisman