Impacto do quadro fiscal no panorama macroeconômico acende alerta

Membros do GRI Club se reuniram com Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional

17 de dezembro de 2024Mercado Imobiliário
Por Henrique Cisman

O Brasil deve enfrentar desafios econômicos complexos em 2025, marcados pela necessidade de ajustes fiscais e pela busca por estabilidade macroeconômica, com destaque para o câmbio e a taxa básica de juros (Selic). O mercado imobiliário é um dos setores mais sensíveis às políticas econômicas e fiscais, com um desempenho altamente dependente da trajetória da taxa de juros e de reformas estruturais que resultem em maior ou menor atratividade para os investidores. 

Neste contexto, o GRI Club realizou duas reuniões para debater, respectivamente, o desafio fiscal do país e as perspectivas para a Selic no ano que vem. Os encontros entre membros contaram com as participações de Rogério Ceron, secretário do Tesouro Nacional, e Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter.

Rogério Ceron, Secretário do Tesouro Nacional, se reuniu com membros do GRI Club (Crédito: GRI Club)

Existe uma relação direta entre o ajuste fiscal e a taxa de juros. Atualmente em 12,25% ao ano e com tendência de alta, a Selic não só impacta o custo do crédito, como também reduz a atratividade dos fundos imobiliários. "O mercado está em compasso de espera, aguardando sinais claros de qual será o movimento em relação à inflação e à política monetária", afirma um executivo. Realizada pouco antes do anúncio do novo pacote fiscal do governo federal, a reunião com Ceron trazia a expectativa de um ajuste fiscal sólido para pavimentar o caminho da redução gradual dos juros e, consequentemente, estimular o mercado de capitais e o setor imobiliário.

O anúncio realizado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não empolgou, o que se traduziu na disparada do dólar e no aumento da curva de juros futuros. A crescente pressão sobre as contas públicas requer medidas mais austeras - como a reforma administrativa e a reforma da previdência - para conter o aumento das despesas e criar um ambiente de maior sustentabilidade fiscal. 

Segundo um participante, "o governo precisa enviar uma mensagem clara de compromisso com a responsabilidade fiscal para recuperar a confiança do mercado e atrair novos investimentos". A previsibilidade das políticas públicas é apontada como fundamental para destravar o potencial de crescimento do mercado imobiliário, que apesar do bom desempenho em 2024, enxerga um cenário bem mais desafiador no próximo ciclo. 

A necessidade de cortes em subsídios e o aparente aumento da carga tributária geram apreensão entre investidores e construtoras. A reforma tributária, que inclui a implementação do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), promete maior integração na cadeia produtiva e ganhos de eficiência, mas seu impacto ainda é incerto, enquanto representantes do setor pedem redução das alíquotas para que haja neutralidade. 

Na quinta-feira (12), o Senado aprovou o PL 68/2024, prevendo diminuição de 50% na alíquota em transações de compra e venda de imóveis, e de 70% no setor de locação. O pleito de associações que representam o mercado imobiliário era de reduções de 60% e 80%, respectivamente. 

Outro ponto relevante é a criação de um limite para a isenção de pessoas físicas que obtêm renda com aluguel de imóveis; pela alteração aprovada, esse limite será possuir, no máximo, três imóveis distintos e obter rendimento anual máximo de R$240 mil.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, trouxe suas perspectivas sobre a economia em reunião liderada pelo comitê das mulheres do GRI Club (Crédito: GRI Club)

O cenário externo também desempenha um papel relevante na dinâmica econômica brasileira. A redução dos juros nos Estados Unidos pode beneficiar mercados emergentes como o Brasil, atraindo fluxos de capital internacional. Contudo, para aproveitar essa oportunidade é essencial que o país demonstre comprometimento com o ajuste fiscal e a estabilidade macroeconômica. "Investidores estrangeiros buscam segurança jurídica e previsibilidade, e o Brasil precisa avançar nesses aspectos para se posicionar como um destino atrativo para o capital internacional", destaca um investidor do setor.

A escassez de mão de obra na construção civil também é levantada como um desafio estrutural, que somada à baixa industrialização do setor pressiona custos e limita a capacidade de execução de novos projetos. "A modernização e a adoção de práticas industrializadas são imperativas para aumentar a produtividade e atender à demanda crescente por habitações", afirma um especialista.

Apesar dos desafios, o mercado imobiliário brasileiro apresenta sinais de resiliência e potencial de crescimento. Para que isso se confirme, é fundamental que haja perspectiva de queda gradual dos juros e a implementação de reformas estruturais. "O Brasil tem a oportunidade de virar a página, consolidando-se como um mercado dinâmico e promissor para investidores de longo prazo", conclui um participante.