Juros e eleições serão maiores obstáculos em 2022, apontam executivos
Pesquisa do GRI Club também revela queda na atratividade dos produtos econômicos
Uma sondagem realizada pelo GRI Club Real Estate Brazil entre os dias 13 e 18 de janeiro com 100 líderes de incorporadoras, construtoras, bancos e casas de investimentos imobiliários revela que o aumento da taxa de juros e as incertezas políticas agravadas pela proximidade das eleições serão os maiores obstáculos para o mercado residencial em 2022.
Orientados a escolher até duas opções de resposta, 56% dos executivos apontam que a continuidade do aperto monetário - medida adotada pelo Banco Central para conter a inflação - deve ser o fator mais prejudicial para o setor ao longo do ano; 54% creem que as eleições também serão um desafio relevante.
A terceira posição na lista das adversidades mais prováveis em 2022 fica com o desabastecimento e a alta no custo dos materiais de construção - que foi um dos problemas mais significativos durante o ano passado e agora é apontado por 27% dos respondentes.
Vale mencionar, ainda, que 16% enxergam a lentidão dos órgãos públicos na aprovação de projetos como um dos principais desafios até dezembro; e 8% apontam para a escassez - e o consequente alto preço - de terrenos para novas incorporações. As novas variantes da covid não são uma grande preocupação, segundo os executivos (houve apenas dois votos nesta opção).
Mesmo em um cenário aparentemente mais desafiador do que em 2021, a maioria (54%) acredita que o desempenho do mercado imobiliário residencial será semelhante ao do ano passado - um dos melhores da história em quantidade de lançamentos, vendas e contratação de crédito imobiliário.
Por outro lado, um terço dos respondentes está pessimista e enxerga um ano pior. A diversidade de pontos de vista fica ainda mais evidente quando analisadas as projeções para o desempenho das próprias empresas dos executivos: 34% creem em aumento nos lançamentos e nas vendas; 27% acham mais provável que os níveis sejam semelhantes a 2021, e 25% projetam queda.
Apenas 10% dos participantes estão otimistas com o desempenho da economia brasileira em 2022, isto é, acreditam que os principais indicadores serão melhores do que no ano passado. Para a maioria (60%), há grandes chances de que tenhamos um ano semelhante em termos econômicos.
Há poucos dias, o presidente Jair Bolsonaro admitiu que será difícil avançar na agenda de reformas estruturais este ano - a aprovação dos projetos no Congresso, além de não ser consenso desde o início, teria um custo político para os parlamentares.
Para 40% dos executivos que participaram da pesquisa, a reforma tributária é a mais importante neste momento, seguida de perto pela administrativa (38%).
Menos investimentos em habitação popular
Dado o cenário de inflação - geral e setorial - e mais dificuldade para os potenciais compradores terem acesso ao crédito imobiliário, a maior parte das companhias investirá nos empreendimentos de médio-alto (24%) e alto padrão (30%).
Vale destacar que as faixas de mercado do programa Casa Verde Amarela foram mencionadas por apenas 17% dos respondentes como as mais atrativas - sendo 12% na faixa 3 e apenas 5% nas faixas 1,5 e 2. Em comparação, 7% vão focar seus investimentos em produtos de luxo - ainda que a demanda seja muito menor.
O resultado da pesquisa ratifica que as menores margens no segmento residencial econômico têm forçado muitas construtoras a lançar empreendimentos fora do programa habitacional, subindo cada vez mais a régua.
Em acréscimo, a combinação do aumento da taxa de juros com a baixa renda da população e a alta constante dos preços também indica perspectivas menos animadoras para esse nicho do mercado.
A cidade de São Paulo (66%) e a região Sul (22%) vão concentrar a maior parte dos novos investimentos residenciais em 2022. Na sequência aparecem Rio de Janeiro (14%), Centro-Oeste (11%) e Nordeste (10%) - era permitido escolher até duas localidades.
Por fim, 47% das companhias afirmam já ter feito investimentos em proptechs ou construtechs pelo menos uma vez, seja via aquisição da startup ou contratação dos serviços. Outros 27% ainda não experimentaram, mas planejam fazê-lo até o final do ano, e 26% dos executivos dizem que o assunto não está nos planos.
Por Henrique Cisman