Menor oferta e alta do INCC impulsionam subida de preços residenciais
Imóveis de médio e alto padrão se valorizam, em linha com a tendência mundial
Diferentes pesquisas apontam para o mesmo resultado: os preços dos imóveis residenciais estão subindo no mundo todo. No início de agosto, um levantamento realizado em 40 países da OCDE e publicado pelo jornal Financial Times mostrou que o aumento de preço foi, em média, de 9,7% no ano passado, ritmo mais elevado dos últimos 30 anos.
Já no primeiro trimestre de 2021, a valorização se intensificou e os preços das casas e apartamentos cresceram 7,3%, aponta pesquisa da companhia britânica Knight Frank. No Brasil, o Índice FipeZap mais recente, relativo a julho, mostra alta mensal nominal de 0,64%, maior variação desde agosto de 2014.
O Índice Geral do Mercado Imobiliário Residencial (IGMI-R), medido pela Abecip em dez capitais brasileiras, avançou em agosto 1,86% em relação ao mês anterior. Em 12 meses, a alta é de 11%. Maior cidade do país, São Paulo registra o avanço de preços mais expressivo, equivalente a 17,83% no mesmo período, segundo o IGMI-R.
Para a diretora de Aquisições e Desenvolvimento da Tishman Speyer, Leila Jacy, houve um represamento de projetos por um bom tempo, especialmente em algumas regiões de São Paulo, como Jardins, Itaim e Pinheiros, onde a valorização dos imóveis foi maior nos últimos anos - também em razão da alta na demanda.
“Acho que é uma conjuntura de fatores, mas o principal é o volume da oferta a ser colocada no mercado. Essas regiões ficaram muito tempo sem ter novos ativos de qualidade e havia uma demanda reprimida. Mesmo com essa demanda, o setor não lançou muitos projetos. Acho que o contexto ajudou a subida de preços em percentuais relevantes”, afirma a executiva.
Alameda Jardins, novo empreendimento mixed-use da Tishman Speyer, tem entrega prevista para o final do ano. Foto: Divulgação/Tishman Speyer
O desequilíbrio entre oferta e demanda foi apontado como um fator de alerta pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção na divulgação dos resultados de vendas e lançamentos de apartamentos novos no segundo trimestre de 2021, realizada no último dia 23. Como houve muito mais vendas (41 mil) do que lançamentos (28 mil), a tendência é que o aumento dos preços continue.
Além da baixa oferta em relação ao apetite dos consumidores, outro fator que explica o comportamento dos preços é a disparada do Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), utilizado como indexador para correção das parcelas. “Não são apenas os insumos, como também os terrenos, que encareceram”, afirma o sócio-diretor da Paladin Realty Partners, Ricardo Raoul.
Em 2019, explica o executivo, fazia-se um projeto para média renda a R$ 4 mil o metro quadrado. Hoje, porém, já não se faz por menos de R$ 5 mil, e as incorporadoras precisam repassar o custo para o comprador, o que ocorre principalmente nas faixas mais elevadas.
“Temos visto lançamentos próximos ao Parque do Povo com preços entre R$ 40 mil e R$ 50 mil o metro quadrado. Na minha percepção, há espaço para esse tipo de produto, principalmente em locais onde não há outro terreno disponível”, complementa Raoul.
Cenário externo
Responsável pela área de Pesquisas, Dados e Inteligência de Mercado da CBRE, Leandro Carmo aponta que a valorização dos imóveis residenciais também é uma realidade nos Estados Unidos, e boa parte das causas é parecida com o que ocorre no Brasil: taxas de juros muito baixas, baixo volume de oferta e alta na demanda, este último considerado o principal indutor em solo americano.
“Muitos casais jovens - e até alguns solteiros - decidiram que era hora de comprar sua residência. Estar perto do trabalho não era mais importante na pandemia e, com os altos aluguéis nos centros urbanos, quem teve condições saiu para regiões secundárias e mais competitivas em termos de custos”, explica Carmo.
Ao contrário do cenário externo, no Brasil o peso dos insumos é uma das causas principais do encarecimento da moradia, mas os especialistas ouvidos pelo GRI não acreditam que o INCC se mantenha nos atuais patamares por muito tempo. “O descolamento entre INCC e IPCA não é normal. Acredito que haverá um alinhamento até o final do ano”, projeta Raoul.
Se isso não acontecer, a tendência é que o volume de lançamentos seja ainda menor, principalmente nos mercados econômico e de média renda. “Acho que o setor tem espaço para crescer se o INCC realmente afrouxar e a taxa de juros ficar estável na casa dos 7%. O que amedronta as empresas e os compradores é a instabilidade, a incerteza sobre o que vai acontecer”, acrescenta o executivo.
Entrega até o final do ano
Para Leila Jacy, a subida de preços não é realidade em todas as regiões e produtos. Assim, o foco da Tishman Speyer tem sido desenvolver projetos de médio e alto padrão. “Hoje, o nosso foco está muito voltado a esses produtos que tem os seus diferenciais em qualidade ou conceito, principalmente quando a gente fala de mixed-use”.
O empreendimento mais recente, com entrega prevista para o final de 2021, é o Alameda Jardins, mix residencial com unidades de 91 a 266 metros quadrados. Serão 144 apartamentos - todos com garagem - que somam um VGV superior a R$ 450 milhões. “A valorização vem de um conjunto de fatores, e ali temos todos eles”, encerra a executiva.
Por Henrique Cisman