O real estate é tech? Especialistas apontam avanços no setor

Inovações vão desde a aprovação mais rápida de crédito até a imersão do cliente no metaverso

3 de novembro de 2022Mercado Imobiliário
Existe um chavão que aponta o mercado imobiliário como um dos mais avessos à tecnologia dentre os principais setores produtivos. Há quatro ou cinco anos, em toda e qualquer conversa sobre tech e inovação, fazia-se o paralelo com a indústria automotiva, mas a cada dia esse distanciamento está ficando menor. 

É o que apontam especialistas ouvidos pelo GRI Club - investidores, incorporadores e membros da academia. Segundo Bruno Loreto, managing partner da Terracotta Ventures, embora os drivers tecnológicos não tenham mudado muito, o grande avanço está na aplicação de algumas dessas tecnologias em modelos de negócios consolidados. 

“A jornada de aprovação de crédito, por exemplo, há cinco anos era cheia de petições, mas cada vez se torna mais fluida. As mecânicas tradicionais tendem a separar as pessoas por perfil, e não individualmente, mas dois clientes com a mesma renda podem ter comportamentos e apresentar níveis de risco totalmente diferentes”, explica o executivo. 

Além do crédito, Loreto aponta a tokenização como uma das ferramentas que mais tem avançado no mercado imobiliário, tanto pelo lado do apetite das incorporadoras quanto por avanços regulatórios. 

Na parte de construção, o setor entra na terceira onda de tecnologia - construtech 3.0 -, caracterizada pela padronização e integração de dados que viabilizam inteligências preditivas e prescritivas com o cruzamento das informações em tempo real nos canteiros de obras. Uma evolução que começa nos anos 90, com os ERPs, e em 2010 avança para soluções dedicadas a problemas específicos. 

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Finalmente, o sócio da Terracotta destaca a gestão das propriedades, especialmente as comerciais, como escritórios e shopping centers, permitindo decisões mais rápidas para melhorar a experiência dos usuários, reduzir custos e maximizar a ocupação.  

Na Yuny Incorporadora, um dos grandes focos em soluções tech atualmente é a digitalização dos projetos, melhorando a experiência do cliente e da própria engenharia interna, conforme conta Guilherme Sawaya, diretor de Incorporação e Inovação da empresa. 

“Projetamos os empreendimentos em BIM, o que facilita transportá-los para uma realidade imersiva, como o metaverso; nesse ambiente, é possível vivenciar os acabamentos, ter ideias de proporção, analisar se as coisas combinam, o tamanho do pé direito, o hall de entrada, a vista das janelas do apartamento, a circulação entre os cômodos e muito mais”, afirma. 

Sawaya destaca que, em relação à digitalização dos decorados, a grande diferença é que o processo é totalmente virtual, ou seja, não requer a construção de um apartamento modelo. 

As vantagens não param no cliente: “Nosso time de engenharia tem se utilizado bastante dessa tecnologia para entender se a parte técnica do edifício está projetada corretamente, como é o caso do 155 Jerônimo, lançado no Itaim”. 

De acordo com Adalberto Silvestre, professor da FGV, a maior barreira não é tecnológica, e sim cultural. “Quando o assunto é inovação, ela está muito mais relacionada ao modelo de negócio do que à tecnologia em si. Até que ponto o corretor é indispensável? Fazendo um paralelo com o mercado financeiro, que é complexo: o cliente pode escolher se quer assessoria ou não”, questiona. 

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Para o acadêmico, se o modus operandi for uma barreira, a tecnologia nunca será realidade em sua plenitude no setor. “Será que estamos evoluindo na mesma velocidade das oportunidades demandadas pelos clientes?”.

A resposta, segundo o especialista, passa pela construção de uma cultura data driven nas incorporadoras. “Não é importante apenas ter uma área dedicada aos dados, mas que isso seja dirigido para a empresa toda e se enxergue o valor do compartilhamento da informação, senão vira uma briga entre o marketing e a área comercial, que não conversam”. 

Outro ponto importante, segundo Silvestre, é a necessidade de entregar resultados imediatos, algo que atrapalha um investimento de longo prazo em inovação e tecnologia: “Muitas empresas familiares abriram capital, e aí o resultado é para amanhã, então há esse conflito”. 

A opinião é endossada por Loreto: “O tratamento otimizado dos dados está na pauta das incorporadoras, e isso já é um avanço, mas a efetivação disso em resultado ainda é bastante restrita. Alguns ciclos de amadurecimento são interrompidos para priorizar os resultados, principalmente em um contexto de mudança total da taxa de juros. É uma barreira natural desse mercado”. 

Metaverso e web 3.0: utopia ou realidade?

Segundo o diretor de Incorporação e Inovação da Yuny, a web 3.0 já existe e se caracteriza pelo maior tempo que as pessoas dedicam aos ambientes virtuais. “A web 3.0 faz das pessoas membros daquele ambiente, e não apenas usuários; elas têm uma carteira de dados com histórico financeiro, de consumo etc. que decidem se compartilham ou não”. 

“Comprar um imóvel pode ser muito mais fácil, já que você pluga sua carteira no imóvel que deseja comprar e não tem que preencher ficha cadastral, puxar dados no Serasa; é muito mais fácil, e ao mesmo tempo pode ser recompensado por dividir dados com empresas que tenham interesse, seja financeiramente, seja com benefícios”, completa o executivo. 

Para o sócio da Terracotta Ventures, no curto prazo o metaverso tem muito mais ênfase e movimenta muito mais dinheiro em um mercado de entretenimento, que envolve games, músicas e vídeos. “Mas é fato que onde há pessoas contemplando para consumir algo, há real estate; então, no curto prazo, é uma questão muito mais de marketing e experiência”.

“É hora de estudar e se aprofundar nessa nova onda que está chegando. Sairá na frente quem estiver mais versado sobre este tema, mas não necessariamente precisa executá-lo agora. É hora de participar de fóruns, eventos e ter conversas de mercado para entender o que está em curso e que horas isso chegará ao mercado imobiliário”, encerra Sawaya.

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Por Henrique Cisman