Projeto de uso misto é tendência em retomada de shoppings e hotéis

Alto das Nações e Cidade Matarazzo são bons exemplos da integração de ativos

9 de dezembro de 2021Mercado Imobiliário

“A ideia de um prédio puramente voltado para compras está desaparecendo. A integração com outros usos agora é a norma, e não a exceção”. A sentença é de Bernardo Fort-Brescia, co-fundador da Arquitectonica, dita em entrevista ao GRI Club Real Estate Brazil
 
Com projetos premiados nos quatro cantos do mundo, incluindo São Paulo, o executivo acredita que as cidades brasileiras oferecem boas oportunidades para a inovação, já que a concentração populacional e o clima ameno não impõem barreiras à criatividade. “É o ambiente ideal para a exploração de novos conceitos”, crava Brescia. 
 
Um ótimo exemplo - considerado mais adaptável ao Brasil - é o Brickell City Center, em Miami, Flórida, que foi projetado pela Arquitectonica. Mais do que um centro de compras do varejo com restaurantes e teatros, o empreendimento tem hotel, apartamentos e escritórios, tornando-se praticamente uma cidade. 
 
O design do shopping no Brickell City Center é típico do novo urbanismo, que repousa no fato de que não existe um limiar de entrada e saída, e sim uma integração com o entorno que facilita o fluxo, conforme explica Brescia. 
 
“A experiência dentro de uma caixa foi considerada revolucionária no pós-guerra, mas a preocupação com a sustentabilidade e as ideias de um novo urbanismo mudaram essa abordagem ao longo do tempo. O shopping ao ar livre emergiu neste contexto e foi acelerado pela pandemia”.
 
No Brickell City Center, há um telhado na faixa central para proteger os visitantes da chuva. A cobertura é composta por fitas tridimensionais translúcidas que bloqueiam os raios solares e reduzem o calor irradiado. Além disso, sua forma permite a captação da brisa. “O resultado é uma temperatura mais baixa induzida naturalmente e com menos umidade. É um ar condicionado natural”, diz o especialista. 
 
Brickell City Center traz inovações arquitetônicas aplicáveis a projetos no Brasil. Imagem: Divulgação/Miami and Beaches World

Alto das Nações

Com um portfólio de 310 ativos imobiliários espalhados pelo país, o Carrefour Property vê potencial para empreendimentos de uso misto em várias dessas localidades, conforme revela Filipe Martins de Oliveira, diretor de Projetos e Desenvolvimento Imobiliário da companhia. 
 
“Nosso landbank não é nada secreto, então estamos disponíveis para conversar com as incorporadoras que eventualmente tenham interesse por algum terreno”, diz o executivo. Curitiba e o interior de São Paulo despontam como favoritos, além da capital paulista, onde está sendo construído o Alto das Nações - complexo multiuso com 320 mil metros quadrados de área privativa na zona sul.
 
Um dos atrativos do empreendimento é o novo centro comercial, com área bruta locável (ABL) de 21 mil metros quadrados, sendo 15 mil para o novo hipermercado do Carrefour e 6 mil para restaurantes, academias e lojas diversas. O complexo integra a primeira fase do Alto das Nações, com previsão de entrega no segundo semestre do ano que vem. 
 
Projeto multiuso Alto das Nações terá moderno centro comercial com centenas de lojas. Imagem: Divulgação/Carrefour Property
 
“Os nossos projetos buscam utilizar os centros de conveniência como âncora para agregar espaços de trabalho, moradia, serviços e hospitalidade, ou seja, a facilidade de morar e trabalhar perto de um centro comercial, de um hipermercado, e poder se deslocar a pé, que é o grande benefício para o consumidor nos empreendimentos que planejamos”, destaca Oliveira. 
 
Quando estiver totalmente concluído, em 2026, o Alto das Nações também terá a torre corporativa mais alta do Brasil, com 216 metros, e um prédio residencial com mais de 200 unidades; a estimativa é de que 13 mil pessoas circulem diariamente no empreendimento. 
 
A operação do centro comercial será feita pelo Carrefour Property, que já administra os shoppings Butantã e Jardim Pamplona, além de centenas de galerias em todo o país. Segundo Oliveira, o projeto no Alto das Nações foi totalmente pensado para se adequar às tendências do comércio eletrônico. 
 
“Tanto o hipermercado quanto as lojas e os restaurantes terão espaços destinados para os entregadores aguardarem os pedidos (delivery), bem como uma área exclusiva para retirada (takeaway). A ideia é que todos os empreendimentos sirvam como centros de distribuição para o e-commerce”, afirma. 

Rosewood São Paulo

A marca hoteleira de luxo desembarca no Brasil no projeto multiuso Cidade Matarazzo, com inauguração prevista para a próxima quarta-feira, 15, conforme conta Ilan Elkaim, diretor de Desenvolvimento do Rosewood Hotel Group na América Latina. 
 
“É a primeira fase do empreendimento, então vamos inaugurar em torno de 50 quartos - além de restaurantes e bares - para atender a demanda mantendo o padrão de qualidade da marca Rosewood”. 
 
A cada dois ou três meses, a Rosewood vai iniciar a operação de novas áreas; já no mês de janeiro, será inaugurado o principal restaurante do hotel, aberto tanto para hóspedes quanto para o público em geral, segundo Elkaim. Em março, será a vez do centro de convenções, com 3 mil metros quadrados de área, considerado o mais moderno da cidade de São Paulo.
 
Cidade Matarazzo recebe o primeiro hotel da marca Rosewood no Brasil. Imagem: Divulgação/Rosewood Hotel Group
 
O diretor da companhia acredita que a demanda para turismo e eventos será forte em 2022. “Fora do Brasil, nos locais onde temos hotéis, estamos vendo uma recuperação em V, como em Nova York ou nas Bahamas, com diárias médias maiores do que no período pré-covid”. 
 
Pelos planos do grupo, o Rosewood São Paulo será o líder de mercado em taxas de ocupação e diárias médias - com valores de 15% até 20% acima de seus pares no mercado paulistano, casos de Fasano, Emiliano e Tangará, por exemplo. 
 
“A gente olha para o Brasil como um mercado de muitas oportunidades ainda. Em comparação com outros países, a penetração de marcas internacionais é muito pequena, assim como o número de quartos por habitantes”, afirma Elkaim. 
 
Depois da inauguração do Rosewood São Paulo, que atende tanto o turismo de lazer quanto o corporativo, o grupo planeja desenvolver um resort para complementar sua oferta urbana. Cidades do nordeste estão na mira, assim como grandes capitais na América do Sul.

Por Henrique Cisman