Student livings operam acima dos 60% e veem demanda crescer com volta às aulas
Parcerias com universidades entram no escopo do modelo de negócio
O Governo de São Paulo autorizou, no início de julho, a volta das aulas presenciais no ensino superior. Embora boa parte das faculdades públicas tenha indicado que o retorno só deve ocorrer em 2022, a possibilidade já tem aquecido o mercado de moradia estudantil, com um aumento na procura por unidades.
Para Claudio Dall'Acqua, CEO da Share Student Living, o movimento deve se intensificar a partir de outubro, quando está prevista a retomada das atividades presenciais em boa parte das universidades particulares, como a Univates, situada no município de Lajeado, Rio Grande do Sul.
“Vamos ter uma unidade dentro do campus da Univates, que já anunciou 100% das aulas presenciais a partir de outubro. A gente já sente alguns movimentos, até na unidade do Butantã, ao lado da USP, de estudantes de outros estados, até mesmo estrangeiros. Estamos bem felizes com a retomada, ainda que parcial”, afirma o executivo.
O presidente da Uliving Student Housing, Juliano Antunes, também conta que houve um aumento considerável na procura nos meses de julho e agosto, e a tendência é que a demanda continue crescendo até o final do ano. A ocupação média nos empreendimentos da companhia é de 65% atualmente.
A Share tem 68% de ocupação na unidade situada na Consolação, em São Paulo. Em agosto, foram inauguradas duas novas unidades, no Butantã e na Vila Mariana, nas quais o patamar ainda é mais baixo, naturalmente. “A gente espera que a partir de outubro, as taxas já sejam maiores”, afirma Dall’Acqua.
Parcerias
Além do já mencionado acordo celebrado entre Share e Univates, a Uliving fechou recentemente uma parceria com a Anima, um dos maiores grupos educacionais do país, para desenvolver empreendimentos estudantis nos campus das universidades. “Vai ser um marco na área da moradia estudantil brasileira e ajudará a reforçar que o setor tem grande potencial de crescimento”, avalia Antunes.
“O estabelecimento de parcerias com faculdades, atléticas e instituições de ensino em geral é tão importante quanto o desenho do produto. É preciso ir além do simples dormir, então a gente se preocupa com a jornada do estudante, e o nosso foco é apoiá-lo nessa jornada”, complementa o CEO da Share.
Perfil dos empreendimentos
Segundo Antunes, a Uliving passou a oferecer apenas quartos individuais após a chegada da pandemia, apostando no compartilhamento somente nas áreas comuns: “Todas as unidades têm coworkings grandes, e o que a gente fez foi aumentar o número de estações individuais”, afirma.
“Quando é possível, a gente explora o paisagismo, também, seja em áreas externas, seja no térreo, em volta do prédio e nos rooftops”, acrescenta o presidente da Uliving Student Housing.
A interação dos moradores é estimulada pela Share, que privilegia as áreas comuns dos empreendimentos - além das salas de estudos, insere áreas de cinema, salas de jogos, piscinas, churrasqueiras e cozinhas compartilhadas.
“Onde a gente cria uma comunidade estudantil, essas áreas de integração são fundamentais, então tem uma parceria de amenities para o estudante poder comprar shampoo, desodorante, pãozinho, salgadinho, comida congelada etc., então tem uma área dedicada a isso também”, diz Dall’Acqua.
Todos os projetos são desenhados para que o morador possa fazer escolhas: socializar e estudar. “O quarto é preparado para estudo, todos têm a sua escrivaninha e internet de banda larga para poder garantir qualidade”, completa o CEO da Share.
Estratégias durante a pandemia
Para reduzir o impacto da suspensão das aulas presenciais, a Uliving passou a aceitar moradores jovens que não tinham vínculo com universidades. “Antes, tinha que comprovar o vínculo, mas a gente tirou essa obrigatoriedade para recuperar parte da ocupação que perdemos no início da pandemia”, afirma Antunes.
“Hoje, a gente ainda tem moradores desse perfil, mas tomamos o cuidado de ser um público com uma certa proximidade dos estudantes. Devemos retomar a comprovação de vínculo a partir do ano que vem, quando a gente acredita que haverá uma volta maciça dos cursos presenciais”, explica o presidente da companhia.
Segundo Dall’Acqua, a Share optou por focar na retenção dos estudantes por meio de políticas de flexibilização dos pagamentos, aplicação de descontos nos valores e postergação dos contratos com um período extra a partir do vencimento. “Com todas essas ações, a gente conseguiu manter um índice de ocupação alto para uma pandemia”, afirma.
“Se a gente comparar com o setor hoteleiro, já que a gente é de base hoteleira, um ‘hotel de estudantes’, obviamente com as nossas características, a hotelaria tradicional navegou perto de 30% [de ocupação], enquanto nós ficamos acima de 60%. Isso mostrou a resiliência do mercado estudantil”, ratifica o executivo.
Novas entregas
A Share planeja entregar no primeiro semestre do ano que vem dois novos empreendimentos: a já mencionada unidade no campus da Univates, em Lajeado, e uma ao lado da PUC São Paulo, em Perdizes. “Hoje, são 1,2 mil camas, e com essas novas entregas, devemos nos aproximar de dois mil quartos estudantis no começo de 2022”.
A Uliving lançou uma nova unidade na Avenida Paulista, em janeiro, e acaba de inaugurar um empreendimento estudantil na cidade de Santos. A empresa ainda vai abrir outro complexo no início do próximo ano, na região de Pinheiros.
Por Henrique Cisman