Sustentabilidade é futuro da construção civil
Executivos debateram os benefícios de ações sustentáveis na construção e operação de edifícios
O GRI Club Real Estate Brazil reuniu virtualmente na quarta-feira, 29, executivos para um debate sobre sustentabilidade no desenvolvimento imobiliário, considerando aspectos como financiamento, custos, regulamentação e tecnologia.
O diretor de projetos e obras da JLL, Charles Nunes, moderou o painel e salientou a importância do ESG atualmente, dado que as empresas, além de se preocuparem com as questões climáticas, utilizando os recursos naturais de maneira mais consciente e emitindo em menor escala os gases poluentes, também têm atuado para melhorar aspectos relacionados à comunidade, com políticas mais transparentes, éticas e responsáveis. Além disso, a adoção dessas práticas têm importância econômica, tendo em vista que atualmente são critérios fundamentais para acesso ao capital.
A discussão teve início com a Business Developer da Urbem, Ana Belizário, abordando a tecnologia dos materiais e o papel deles no ecossistema. A executiva pontuou que a agenda de sustentabilidade é ampla e complexa, pois olha tanto para a redução da emissão de carbono como para a composição dos produtos utilizados no ciclo da construção civil.
Hoje, o carbono (CO2) representa cerca de 70% dos gases de efeito estufa em nosso planeta, e com a intensificação da atividade humana, muitos desequilíbrios ambientais têm ocorrido, como o maior aquecimento das temperaturas do globo terrestre.
Uma alternativa encontrada para mitigar o impacto na construção, segundo Belizário, é a utilização de estruturas de madeira engenheirada, tendo em vista que as árvores utilizam o CO2 durante o seu processo de fotossíntese, conhecido como “sequestro de carbono”.
A executiva ressaltou que a substituição de materiais como aço, concreto, vidro, plástico e alumínio por madeira é uma excelente alternativa, dado que a madeira é um produto renovável e apresenta um ciclo virtuoso, devido à capacidade de replantio contínuo.
Nicolaos Theodorakis, CEO e sócio fundador da Noah, complementou a ideia de Belizário explicando que, atualmente, o setor imobiliário é responsável por 39% das emissões de gás carbônico no mundo, sendo que as operações dos prédios representam 28% do total, o que faz com que o mercado busque cada vez mais iniciativas de melhoria da eficiência - principalmente dos equipamentos - para mitigar os efeitos gerados em todo o ciclo.
Assim, o executivo acredita que o futuro dos produtos imobiliários é necessariamente relacionado à sustentabilidade, vide o conceito de flighting sustainability adotado pela Noah, que não obstante em manter o compromisso com o lucro do acionista, cuida do seu entorno, trazendo um ambiente mais saudável, criativo e inovador para os colaboradores e clientes, como a exploração da biofilia nos espaços de trabalho.
Ao abordar os custos e a viabilidade dos projetos, Adriana Machado, superintendente da HTB Engenharia e Construções, assinalou que a tecnologia da madeira engenheirada existe há mais de 20 anos no mundo, e por mais que no Brasil seja recente, é economicamente viável, dado que, após estudar o uso da tecnologia e a utilização de recursos naturais, a HTB desenvolveu um projeto que obteve recepção muito positiva pelos fundos imobiliários, inclusive em relação ao custo.
O projeto conta com estrutura híbrida, que gera neutralização de carbono em mais da metade da construção, utiliza conceitos de biofilia e se preocupa com as questões de segurança no canteiro de obras. Além disso, a tecnologia utilizada otimiza recursos, gera menor desperdício e descarte de lixo no meio ambiente.
Vitor Bidetti, CEO da Integral Brei, ressaltou que o ponto a ser questionado não é mais se essas práticas são viáveis ou não, pois, para ele, são mandatórias. Por mais que a pandemia tenha acelerado e afirmado a necessidade de políticas ambientais, sociais e de governança, o assunto é debatido desde 2016 e a companhia é signatária dos principais organismos relacionados ao ESG.
Dessa forma, a Integral Brei realizou alterações em seu estatuto social, nas práticas e políticas de governança e, junto com a Noah, atualmente possui uma iniciativa para criar produtos ESG. Além disso, tem outros planos, como o de desenvolver uma Smart City em Brasília, já que a aceitação por essas estratégias têm sido muito grande.
Theodorakis complementou a fala de Bidetti evidenciando que, apesar de haver uma ideia de que tais projetos não são economicamente viáveis, muitas vezes eles são mais rentáveis do que os convencionais. Além disso, com o processo de industrialização na construção, o tempo de obra é diminuído, ficando menos suscetível à volatilidade da economia brasileira, além de ativar o empreendimento mais rapidamente, o que gera receita em um espaço de tempo mais curto.
Ao finalizar a discussão, Belizário explicou que, por mais que as construtoras entreguem produtos de primeira linha e possuam engenharias sofisticadas, uma das grandes dificuldades atuais é a maneira de conduzir o canteiro de obras, tendo em vista que geralmente é um local arriscado para se trabalhar.
Portanto, com o exercício da construção industrializada e o uso de madeira engenheirada, material mais leve se comparado aos demais, a alocação do contingente de trabalhadores tem sido melhor distribuída para as outras etapas da cadeia produtiva, assegurando uma condição mais digna de trabalho, com ferramentas e treinamentos adequados.
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Por Júlia Martini e Henrique Cisman