Teto de gastos e ajuste fiscal são essenciais para haver queda dos juros
Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse Brasil, participou de reunião com membros do GRI Club
23 de setembro de 2022Mercado Imobiliário
O GRI Club realizou um encontro de seus membros com a economista-chefe do Credit Suisse Brasil, Solange Srour, no último dia 15, na sede do BMA Advogados, em São Paulo, para tratar das perspectivas macroeconômicas e o que esperar das variáveis que impactam a atividade imobiliária nos próximos 12 a 18 meses.
A moderação do debate foi feita pela sócia da área de Negócios Imobiliários do BMA, Cristiana Moreira. Segundo Srour, o desempenho do Brasil terá influência do cenário externo, que é complexo e inédito, com três fatores de maior preocupação.
Contudo, para manter um crescimento alto com inflação controlada em 2023, o Brasil vai precisar fazer mais. Este ano, alguns fatores estão auxiliando para um bom desempenho, como o pagamento dos auxílios governamentais, o uso da poupança acumulada durante a pandemia e os descontos em impostos federais, com impacto direto no controle da inflação.
Solange Srour (à direita) e Cristiana Moreira conduziram debate com membros do GRI Club. Foto: Flávio R. Guarnieri
O próximo ciclo político e econômico do país será tema do painel de abertura do Brazil GRI 2022, nos dias 9 e 10 de novembro, em São Paulo. Participe!
Segundo Srour, a questão fiscal é essencial para o Brasil continuar crescendo no ano que vem. Neste sentido, duas reformas despontam como urgentes: tributária, com maior arrecadação de impostos para custear o Auxílio Brasil, respeitando a lei de responsabilidade fiscal; e administrativa, para controlar o gasto público com a máquina.
Se houver ajuste fiscal, a taxa de juros real deve cair para a casa dos 4%. Hoje, está acima dos 6%, o que não se traduz em uma situação de equilíbrio para o país. “Se a taxa real estiver muito acima do crescimento do PIB, a dívida cresce e o país quebra”, afirmou a executiva.
Em um cenário de reformas e ajuste sensato no teto de gastos, espera-se uma inflação na casa dos 5% em 2023, com a Selic entre 9% e 10% ao ano. Por outro lado, se o teto for revogado e não houver austeridade fiscal, é provável que o juro real suba ainda mais e, neste caso, a leitura é que qualquer que seja o presidente, não terminará o mandato.
Outro fator que coloca o país no mapa dos investidores é a situação complicada das outras nações latino-americanas, com maior destaque para a crise econômica e social na Argentina. Mudanças recentes nos governos do Chile e da Colômbia também não agradaram. “O governo brasileiro terá que ser equilibrado, ortodoxo”.
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Se o FED subir os juros para 5% ao ano, entende-se que será difícil reduzir os juros aqui no Brasil, pois isso reduz nossa atratividade. Mas se o FED parar nos 4%, o Brasil consegue baixar os juros, contanto que o risco fiscal diminua.
Inflação setorial
O custo da mão de obra não deve desacelerar, pois o desemprego está em 9%, um percentual bom e que deve perdurar. Neste aspecto, portanto, não haverá fôlego.
Já a inflação de materiais e insumos tem diminuído lá fora e isso pode ocorrer também no Brasil, dependendo da taxa de câmbio. Mesmo assim, não deve ser uma queda muito expressiva, a menos que haja uma enorme recessão global, o que não é o cenário-base.
Reforma tributária
Os candidatos, até agora, não têm propostas claras neste sentido, mas é provável que haja taxação de lucros e dividendos. Já o imposto sobre grandes fortunas está longe de acontecer, pois é muito contraproducente - deu errado em todos os países que o fizeram, pois o capital vai embora.
Deve haver finalmente uma unificação de impostos - governo federal e governos estaduais terão que sentar para se alinhar.
Equilíbrio no próximo governo
O congresso é o fiel da balança do país. Se a coisa degringolar, é impeachment. Tudo indica que será um congresso centrista, e nenhum dos dois favoritos à presidência terá uma bancada predominante. Para conseguir governar e aprovar projetos, qualquer um dos presidenciáveis terá que ir para o centro.
Por Henrique Cisman
A moderação do debate foi feita pela sócia da área de Negócios Imobiliários do BMA, Cristiana Moreira. Segundo Srour, o desempenho do Brasil terá influência do cenário externo, que é complexo e inédito, com três fatores de maior preocupação.
- A inflação nos Estados Unidos. O país respondeu aos pacotes de estímulos realizados desde o início da pandemia de covid-19, mas viu a inflação disparar e alcançar o maior nível das últimas quatro décadas. Para controlar a subida de preços, o FED - banco central americano - está subindo a taxa de juros, medida que é prejudicial ao Brasil por nos tornar menos atrativos para o investimento em relação aos EUA. Na quarta-feira, 21, o FED novamente subiu os juros em 0,75 ponto percentual, para um intervalo entre 3% e 3,25% ao ano.
- A recessão na Europa. O choque de oferta “bateu forte” nos países europeus, e como o continente é um importante parceiro comercial do Brasil, a recessão tende a derrubar os preços das commodities.
- O fraco crescimento da China. O país está “decepcionando” no crescimento, tem que lidar com as restrições do governo para conter a covid-19 e ainda assiste a um estouro da bolha imobiliária, com grandes incorporadoras mega endividadas. Mesmo com um pacote de estímulos no setor de infraestrutura, os resultados estão fracos.
Contudo, para manter um crescimento alto com inflação controlada em 2023, o Brasil vai precisar fazer mais. Este ano, alguns fatores estão auxiliando para um bom desempenho, como o pagamento dos auxílios governamentais, o uso da poupança acumulada durante a pandemia e os descontos em impostos federais, com impacto direto no controle da inflação.
Solange Srour (à direita) e Cristiana Moreira conduziram debate com membros do GRI Club. Foto: Flávio R. Guarnieri
O próximo ciclo político e econômico do país será tema do painel de abertura do Brazil GRI 2022, nos dias 9 e 10 de novembro, em São Paulo. Participe!
Segundo Srour, a questão fiscal é essencial para o Brasil continuar crescendo no ano que vem. Neste sentido, duas reformas despontam como urgentes: tributária, com maior arrecadação de impostos para custear o Auxílio Brasil, respeitando a lei de responsabilidade fiscal; e administrativa, para controlar o gasto público com a máquina.
Se houver ajuste fiscal, a taxa de juros real deve cair para a casa dos 4%. Hoje, está acima dos 6%, o que não se traduz em uma situação de equilíbrio para o país. “Se a taxa real estiver muito acima do crescimento do PIB, a dívida cresce e o país quebra”, afirmou a executiva.
Em um cenário de reformas e ajuste sensato no teto de gastos, espera-se uma inflação na casa dos 5% em 2023, com a Selic entre 9% e 10% ao ano. Por outro lado, se o teto for revogado e não houver austeridade fiscal, é provável que o juro real suba ainda mais e, neste caso, a leitura é que qualquer que seja o presidente, não terminará o mandato.
Brasil é atrativo para o investimento estrangeiro?
Embora haja um compasso de espera pela eleição presidencial para conhecer a política-econômica, o Brasil está no radar porque não tem problemas geopolíticos, possui uma grande variedade de commodities e ainda há o entendimento de que o país começou a subir os juros mais cedo, logo, também sairá antes do ciclo de alta - na quarta-feira (21), o Copom manteve a Selic em 13,75% após doze altas seguidas.Outro fator que coloca o país no mapa dos investidores é a situação complicada das outras nações latino-americanas, com maior destaque para a crise econômica e social na Argentina. Mudanças recentes nos governos do Chile e da Colômbia também não agradaram. “O governo brasileiro terá que ser equilibrado, ortodoxo”.
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Confira outros tópicos da reunião
Juros nos Estados UnidosSe o FED subir os juros para 5% ao ano, entende-se que será difícil reduzir os juros aqui no Brasil, pois isso reduz nossa atratividade. Mas se o FED parar nos 4%, o Brasil consegue baixar os juros, contanto que o risco fiscal diminua.
Inflação setorial
O custo da mão de obra não deve desacelerar, pois o desemprego está em 9%, um percentual bom e que deve perdurar. Neste aspecto, portanto, não haverá fôlego.
Já a inflação de materiais e insumos tem diminuído lá fora e isso pode ocorrer também no Brasil, dependendo da taxa de câmbio. Mesmo assim, não deve ser uma queda muito expressiva, a menos que haja uma enorme recessão global, o que não é o cenário-base.
Reforma tributária
Os candidatos, até agora, não têm propostas claras neste sentido, mas é provável que haja taxação de lucros e dividendos. Já o imposto sobre grandes fortunas está longe de acontecer, pois é muito contraproducente - deu errado em todos os países que o fizeram, pois o capital vai embora.
Deve haver finalmente uma unificação de impostos - governo federal e governos estaduais terão que sentar para se alinhar.
Equilíbrio no próximo governo
O congresso é o fiel da balança do país. Se a coisa degringolar, é impeachment. Tudo indica que será um congresso centrista, e nenhum dos dois favoritos à presidência terá uma bancada predominante. Para conseguir governar e aprovar projetos, qualquer um dos presidenciáveis terá que ir para o centro.
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Por Henrique Cisman