Teto de gastos e ajuste fiscal são essenciais para haver queda dos juros

Solange Srour, economista-chefe do Credit Suisse Brasil, participou de reunião com membros do GRI Club

23 de setembro de 2022Mercado Imobiliário
O GRI Club realizou um encontro de seus membros com a economista-chefe do Credit Suisse Brasil, Solange Srour, no último dia 15, na sede do BMA Advogados, em São Paulo, para tratar das perspectivas macroeconômicas e o que esperar das variáveis que impactam a atividade imobiliária nos próximos 12 a 18 meses. 

A moderação do debate foi feita pela sócia da área de Negócios Imobiliários do BMA, Cristiana Moreira. Segundo Srour, o desempenho do Brasil terá influência do cenário externo, que é complexo e inédito, com três fatores de maior preocupação.
  • A inflação nos Estados Unidos. O país respondeu aos pacotes de estímulos realizados desde o início da pandemia de covid-19, mas viu a inflação disparar e alcançar o maior nível das últimas quatro décadas. Para controlar a subida de preços, o FED - banco central americano - está subindo a taxa de juros, medida que é prejudicial ao Brasil por nos tornar menos atrativos para o investimento em relação aos EUA. Na quarta-feira, 21, o FED novamente subiu os juros em 0,75 ponto percentual, para um intervalo entre 3% e 3,25% ao ano. 
  • A recessão na Europa. O choque de oferta “bateu forte” nos países europeus, e como o continente é um importante parceiro comercial do Brasil, a recessão tende a derrubar os preços das commodities. 
  • O fraco crescimento da China. O país está “decepcionando” no crescimento, tem que lidar com as restrições do governo para conter a covid-19 e ainda assiste a um estouro da bolha imobiliária, com grandes incorporadoras mega endividadas. Mesmo com um pacote de estímulos no setor de infraestrutura, os resultados estão fracos.
No cenário interno, o Brasil está bem melhor do que se imaginava há cinco meses: a projeção do PIB vem crescendo semana a semana, mais próxima dos 3% - alcançou 2,65% no último Boletim Focus -, e a projeção da inflação vem caindo - foi reduzida para 6%, segundo o mercado financeiro, na décima segunda revisão consecutiva para baixo. 

Contudo, para manter um crescimento alto com inflação controlada em 2023, o Brasil vai precisar fazer mais. Este ano, alguns fatores estão auxiliando para um bom desempenho, como o pagamento dos auxílios governamentais, o uso da poupança acumulada durante a pandemia e os descontos em impostos federais, com impacto direto no controle da inflação. 


Solange Srour (à direita) e Cristiana Moreira conduziram debate com membros do GRI Club. Foto: Flávio R. Guarnieri

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Segundo Srour, a questão fiscal é essencial para o Brasil continuar crescendo no ano que vem. Neste sentido, duas reformas despontam como urgentes: tributária, com maior arrecadação de impostos para custear o Auxílio Brasil, respeitando a lei de responsabilidade fiscal; e administrativa, para controlar o gasto público com a máquina. 

Se houver ajuste fiscal, a taxa de juros real deve cair para a casa dos 4%. Hoje, está acima dos 6%, o que não se traduz em uma situação de equilíbrio para o país. “Se a taxa real estiver muito acima do crescimento do PIB, a dívida cresce e o país quebra”, afirmou a executiva.

Em um cenário de reformas e ajuste sensato no teto de gastos, espera-se uma inflação na casa dos 5% em 2023, com a Selic entre 9% e 10% ao ano. Por outro lado, se o teto for revogado e não houver austeridade fiscal, é provável que o juro real suba ainda mais e, neste caso, a leitura é que qualquer que seja o presidente, não terminará o mandato. 

Brasil é atrativo para o investimento estrangeiro?

Embora haja um compasso de espera pela eleição presidencial para conhecer a política-econômica, o Brasil está no radar porque não tem problemas geopolíticos, possui uma grande variedade de commodities e ainda há o entendimento de que o país começou a subir os juros mais cedo, logo, também sairá antes do ciclo de alta - na quarta-feira (21), o Copom manteve a Selic em 13,75% após doze altas seguidas.

Outro fator que coloca o país no mapa dos investidores é a situação complicada das outras nações latino-americanas, com maior destaque para a crise econômica e social na Argentina. Mudanças recentes nos governos do Chile e da Colômbia também não agradaram. “O governo brasileiro terá que ser equilibrado, ortodoxo”. 

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Confira outros tópicos da reunião

Juros nos Estados Unidos
Se o FED subir os juros para 5% ao ano, entende-se que será difícil reduzir os juros aqui no Brasil, pois isso reduz nossa atratividade. Mas se o FED parar nos 4%, o Brasil consegue baixar os juros, contanto que o risco fiscal diminua. 

Inflação setorial
O custo da mão de obra não deve desacelerar, pois o desemprego está em 9%, um percentual bom e que deve perdurar. Neste aspecto, portanto, não haverá fôlego. 

Já a inflação de materiais e insumos tem diminuído lá fora e isso pode ocorrer também no Brasil, dependendo da taxa de câmbio. Mesmo assim, não deve ser uma queda muito expressiva, a menos que haja uma enorme recessão global, o que não é o cenário-base. 

Reforma tributária
Os candidatos, até agora, não têm propostas claras neste sentido, mas é provável que haja taxação de lucros e dividendos. Já o imposto sobre grandes fortunas está longe de acontecer, pois é muito contraproducente - deu errado em todos os países que o fizeram, pois o capital vai embora. 

Deve haver finalmente uma unificação de impostos - governo federal e governos estaduais terão que sentar para se alinhar. 

Equilíbrio no próximo governo
O congresso é o fiel da balança do país. Se a coisa degringolar, é impeachment. Tudo indica que será um congresso centrista, e nenhum dos dois favoritos à presidência terá uma bancada predominante. Para conseguir governar e aprovar projetos, qualquer um dos presidenciáveis terá que ir para o centro. 

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Por Henrique Cisman