Varejistas usam self-storage para otimizar entregas na “última milha”
Alta demanda muda vocação original de imóveis
Comprar um produto online e recebê-lo em casa ou no trabalho horas depois deixou de ser “coisa do futuro” há algum tempo. Mesmo opções mais complexas do que um café da manhã ou almoço já são entregues em prazos cada vez menores, fruto de uma competição acirrada entre as empresas, especialmente as varejistas, para ganhar o cliente pela eficiência.
Tal cenário abre novas possibilidades para o mercado imobiliário, já que ativos bem localizados são essenciais para uma distribuição rápida das mercadorias. “Foi exatamente o aumento do uso dos self-storages pelas empresas, em grande parte e-commerces, que nos fez ampliar nossa atuação para resolver os gargalos da última milha na cidade de São Paulo”, afirma o fundador e CEO da GoodStorage, Thiago Cordeiro.
A GoodStorage tem vinte unidades espalhadas pela grande São Paulo, localizadas em bairros consolidados e estratégicos, como Vila Olímpia, Bela Vista e Mooca, permitindo às varejistas fracionar a última milha da entrega. A escolha das unidades é feita com base em estudos de demanda e vias de acesso, segundo Cordeiro.
“Os ativos logísticos ficam próximos da Marginal Tietê, que é a principal via de acesso da cidade, permitindo que as operações fiquem mais próximas dos clientes finais dessas empresas”, ressalta. A GoodStorage espera crescer 50% em 2023, acrescentando 100 mil metros quadrados de ABL, dos quais 85% em ativos dedicados para atender o varejo.
De acordo com Thiago Cordeiro, o Park Marginal Lapa II e o Park Marginal Lapa III - que estão em obras - serão entregues já no primeiro trimestre do ano que vem, enquanto a unidade Park Vila Anastácio, que terá docas elevadas ou em nível, estará pronta para uso a partir de julho.
“Quando as empresas aproximam seus estoques da cidade e os fracionam por região, diminui-se deslocamento e tempo de entrega, dispensando a necessidade de caminhões. Além de mais rápido, mais eficiente e menos custoso, isso também gera menor impacto ambiental, com menos reduções de CO2. É o que o mercado chama de logística verde”, completa.
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Outra empresa do ramo de self-storage a apostar no last mile é a GuardeAqui, do Pátria Investimentos. Segundo a CEO, Mariane Wiederkehr, cerca de 40% dos clientes atuais são pessoas jurídicas - nomes como Amazon, Ambev, B2W e Pet Love. “Temos um ativo em Santo Amaro, por exemplo, com 13 mil metros quadrados, que serve quase exclusivamente à última milha”.
A executiva afirma que a empresa se antecipou à demanda em seu plano de expansão, realizado em 2017, e que agora o foco está na ocupação dos espaços. Hoje, a vacância média é de 20% - nos EUA, a média é de 5%. “Tendo como base o mercado americano, vemos caminhos para seguir aumentando a ocupação e o valor médio dos aluguéis”, diz a executiva.
A valorização do preço é um dos diferenciais do segmento em relação à logística tradicional, que mesmo com o boom na demanda não variou tanto. “No self-storage, vimos crescimentos de dois dígitos no preço do aluguel nos últimos dois anos. É uma modalidade diferente, que tem contratos mensais e flexíveis e uma precificação muito mais dinâmica”, explica Wiederkehr.
“Entendemos que essa flexibilidade é bastante positiva para os operadores do varejo; se a empresa precisa ampliar na Black Friday, por exemplo, dificilmente encontra solução no mercado [tradicional]. Nossa ideia é ser uma classe do real estate mais moderna e adaptável para atender a última milha, e com isso, obviamente, ganhamos no preço”, completa a CEO da GuardeAqui.
Unidade da GuardeAqui em Santo Amaro é utilizada quase integralmente por empresas do varejo. Foto: Divulgação/GuardeAqui
Atuando em todas as frentes do mercado logístico, a Retha Imóveis vem aumentando a aposta no produto com vocação last mile. A grande novidade é o Icon Realty Itaquera, na zona leste de São Paulo, com dez mil metros quadrados de ABL para atender o consumo na região - a maior da capital paulista em número de habitantes.
O empreendimento fica a 800 metros da Avenida Jacu Pêssego, importante eixo de ligação na zona leste, a 2,4 km da estação CPTM Dom Bosco, a 20 km do Rodoanel Mário Covas e a 19 km do Aeroporto Internacional de Guarulhos. A previsão é que o ativo seja entregue em até 12 meses.
O diretor da empresa, Marino Mário da Silva, destaca que no Espace Center, um dos maiores condomínios logísticos dentro de São Paulo, inaugurado há 25 anos na Marginal Tietê, 70% dos inquilinos atuais operam na última milha.
A empresa também iniciou o retrofit de um ativo industrial situado em Taboão da Serra, subdividindo o galpão em vários armazéns menores para atender o last mile. “Taboão da Serra não é dentro de São Paulo, mas é ao lado. Há clientes que preferem pagar menos de 30 reais o metro quadrado e, por isso, escolhem aqui. Outros aceitam pagar bem mais e ficam no Espace Center”, diz Silva.
“Hoje, a ocupação está em 70%, e com as adaptações em curso, transformando espaços de três a cinco mil metros quadrados em áreas de 500 m², acreditamos que em 2023 estará tudo ocupado”, encerra o executivo.
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Por Henrique Cisman