Objetivos do BNDES para impulsionar a infraestrutura e energia no Brasil

Nova gestão concentra esforços na estruturação de projetos e expansão do financiamento

27 de novembro de 2023Infraestrutura
Por Henrique Cisman

Membros do GRI Club Infra se reuniram para dois dias de diálogo entre si e com autoridades públicas a fim de debater o panorama da infraestrutura e energia no Brasil, visando destravar o grande potencial de investimentos no setor.

O encontro foi realizado em São Paulo e trouxe uma agenda robusta contemplando diversos subsegmentos, como transportes, mobilidade urbana, saneamento básico, energia e infraestrutura social. 

Confira a seguir os principais insights relacionados à atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A discussão abriu o segundo dia do Brazil GRI Infra & Energy 2023 (Imagem: João de Faria/GRI Club)

Estruturação 

Uma das maiores revoluções realizadas no BNDES na gestão anterior, a estruturação de projetos continua como uma das principais frentes de atuação do banco de fomento, segundo Luciene Machado, superintendente da área.

No novo ciclo, a carteira de projetos em estruturação supera uma centena, com mais de R$ 350 bilhões em investimentos previstos. Cerca de 70 projetos são de Estados e Municípios, e os demais em nível federal. 

Segundo Nathalia Saad, head de Infraestrutura e Concessões Rodoviárias do BNDES, a mobilização de recursos privados para o setor depende de projetos bem estruturados e segurança regulatória. Vale pontuar que as concessões e parcerias público-privadas passaram sem grandes sustos pelo stress da pandemia.

Além da atuação direta como "banco de projetos", ou seja, quando é contratado por um poder concedente ou ente federativo para ser responsável pela estruturação, o BNDES também tem desempenhado um importante papel de consultor informal, contribuindo no processo de elaboração de editais em grandes concessões e PPPs.

Além de setores tradicionais na carteira do banco, como transportes e saneamento, há uma atenção especial para a estruturação de bons projetos na área social - especialmente saúde e educação, via PPPs - e na frente ambiental, para a exploração e preservação de unidades de conservação de floresta, com pelo menos 3 milhões de hectares em andamento para concessão. 
 
Luciene Machado em ação durante discussão  (Imagem: João de Faria/GRI Club

Financiamento

Na outra frente principal de atuação, o BNDES pretende expandir o volume de financiamento para 2% do PIB até 2026, montante do qual mais da metade deverá ir para infraestrutura e energia, considerando a composição da carteira atual. 

O balanço recém-divulgado pelo banco referente ao terceiro trimestre mostra que, até setembro, foram desembolsados R$ 75,4 bilhões em crédito. O diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos, Nelson Barbosa, estima que o ritmo acelerado pode resultar em R$ 119 bilhões concedidos ao longo do ano, o que ainda significará o equivalente a 1,1% do PIB. 

A título de exemplo, nos últimos 20 anos os setores de infraestrutura e energia receberam em torno de R$ 1 trilhão em financiamentos do BNDES. Já nos próximos 10 anos, o banco estima que sejam necessários R$ 3,7 trilhões em novos investimentos. 

Para suprir uma boa parte dessa necessidade, o BNDES afirma pautar sua atuação em três eixos principais: 

1. Soluções sofisticadas de crédito alinhadas com segurança jurídica. Segundo executivos do banco, existe um maior apetite a risco consoante a atualização da política de crédito da instituição financeira, o que só foi possível pela melhor qualidade dos projetos financiados aliada ao ambiente de segurança regulatória. 

"Buscamos estruturas que onerem menos os investidores dos projetos, como project finance non recourse ou limited recourse, quando a primeira não é possível".

2. Atuação complementar ao mercado de capitais, trazendo-o para os projetos em estruturas de co-financiamento e compartilhamento de riscos. 

3. Atuação anticíclica, típica de bancos de desenvolvimento e fundamental para destravar projetos de longo prazo, como são os casos de infraestrutura e energia. Quando há uma crise de crédito e iliquidez, como aconteceu há alguns meses após o evento Americanas, o BNDES visa garantir que a estruturação financeira aconteça, viabilizando o investimento nos projetos. 

O banco ainda atua como coordenador e investidor em operações de debêntures. 

Para dar conta da enorme demanda que se desenha, o BNDES deseja acessar cada vez mais o mercado de capitais, por exemplo, via emissão de Letras de Crédito ou até uma emissão externa de títulos, segundo Natália Dias, diretora de Mercado de Capitais e Finanças Sustentáveis. 
 
Natália Dias dá detalhes sobre as estratégias de financiamento do BNDES (Imagem: João de Faria/GRI Club

Transição energética

Ainda que a infraestrutura como um todo esteja no DNA do banco, há um olhar especial para a agenda de transição energética. "Não temos como ignorar as oportunidades que surgem dos desafios da transição energética e mudanças climáticas, e o Brasil está muito bem posicionado", afirma Nathalia Saad

O BNDES tem privilegiado projetos relacionados ao hidrogênio verde, que tem grande potencial de gerar empregos e renda, como também setores de difícil descarbonização, casos da siderurgia e da indústria de fertilizantes. 

Além desses, o banco é entusiasta dos investimentos em combustíveis sustentáveis para a aviação e na eletrificação das frotas de ônibus; nesta última, a Prefeitura de São Paulo contratou um financiamento de R$ 2,5 bilhões para a aquisição de até 1,5 mil ônibus movidos exclusivamente a bateria em 2024. 

Da carteira de crédito atual do BNDES, 56% (algo equivalente a quase R$ 500 bilhões) estão voltados para projetos que atendem a critérios de sustentabilidade; ainda, o BNDES foi a primeira instituição a emitir títulos verdes, em 2020. 

Por fim, o banco espera captar pelo menos R$ 10 bilhões para o Fundo Clima - operado pelo próprio BNDES - a partir dos títulos verdes recém-emitidos pelo Tesouro Nacional.

Nathalia Saad também participou da sessão de abertura no Brazil GRI Infra & Energy 2023 (Imagem: João de Faria/GRI Club