"Construção está no mesmo patamar de 2007", diz economista

Ieda Vasconcelos, da CBIC, falou sobre desafios e perspectivas para o setor em 2021

27 de julho de 2021Mercado Imobiliário

Após avançar 1,2% no primeiro trimestre de 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil retornou ao patamar pré-pandemia, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A construção civil é um dos setores que mais contribuiu para a retomada, com uma alta no PIB de 2,1% no mesmo período.

No resultado, houve grande participação do mercado imobiliário, que representa cerca de 60% do PIB do ramo. A informação é de Ieda Vasconcelos, economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que comenta o atual momento do setor em entrevista para o GRI Club

Qual é a sua leitura em relação aos resultados do PIB no 1º trimestre? O crescimento da construção (2,1%) frente ao trimestre anterior foi acima do esperado? 

Ieda Vasconcelos: Sem dúvida, o crescimento da construção no primeiro trimestre superou as expectativas. O incremento das atividades do mercado imobiliário, amparado pelo baixo patamar dos juros e pela inflação sob controle, gerou resultados bastante positivos do PIB em relação ao trimestre anterior. 

Entretanto, diferentemente do país, a construção ainda não voltou aos patamares pré-pandemia e está 2,89% abaixo do último trimestre de 2019. Portanto, posso dizer que foi um crescimento importante, mas ainda não suficiente para recuperar as perdas. 

Se olharmos para um intervalo maior, o setor da construção está atualmente no mesmo nível de 2007, já que as atividades caíram quase 30% entre 2014 e 2019. Com o cenário que se formava, tínhamos a expectativa de recuperar boa parte do prejuízo neste novo ciclo, mas veio a pandemia e ainda estamos crescendo aquém do esperado.

Levando em conta que, mesmo assim, a construção foi o setor que mais gerou empregos formais em 2020, com mais de 112 mil novas vagas com carteira assinada abertas, como seria o impacto na economia brasileira se o nosso nível de atividade estivesse no patamar de 2014 e não de 2007? 

Os problemas na cadeia de suprimentos impedem a construção de alcançar patamares próximos aos de 2014? 

Ieda Vasconcelos: Conforme o que os empresários alegaram na Sondagem da Construção, pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria [CNI] em parceria com a CBIC, o principal problema do setor realmente é o desabastecimento e o aumento do preço dos insumos. 
 
A demanda por imóveis está grande, mas o mercado está vendendo principalmente o estoque. Neste momento, deveríamos estar recompondo esse estoque, mas os problemas com a cadeia de suprimentos têm atrapalhado o lançamento de novos projetos. 
 
De qualquer maneira, é quase impossível recuperar 30% de queda em apenas um ano e, para voltarmos aos patamares de 2014, também precisamos de mais investimentos em infraestrutura. 

O que a CBIC propõe para amenizar os problemas com desabastecimento e o aumento do preço dos insumos?

Ieda Vasconcelos: Precisa haver um choque de oferta na cadeia de suprimentos. O mercado imobiliário está em um bom momento, a demanda está forte, mas temos pouquíssima oferta de insumos. Para mudar isso, seria necessário facilitar a importação, reduzindo a alíquota das transações. É isso que temos reivindicado para que o setor se reequilibre e volte a ter previsibilidade nos novos investimentos.
 

Nesta segunda-feira (26), a CBIC apresentou os resultados do setor no 2º trimestre. A expectativa para o PIB da construção, que havia sido reduzida para crescimento de 2,5%, voltou a ser de 4% em relação ao ano anterior.

Por Daniel Caravetti